quinta-feira, 16 de junho de 2011
Reenactment - "Following Piece" Vito Acconci - Gui Terreri
Reenactment. “Following Piece” Vito Acconci – Gui Terreri
Este projeto se iniciou durante uma das Aulas de A.T.A.T na Unirio. Após Ler a respeito da Performace idealizada e realizada pelo performer Vito Acconci no ano de 1969. Primeiramente minha idéia se caracterizou por dar nova roupagem e abordagem à performance transformando-a e imbuindo nela um questionamento pessoal muito forte, no entanto não fui capaz de conseguir a participação de estranhos que embarcassem na minha idéia inicial retornando assim ao reenactment simples da performance escolhida.
Quantos de nós já não nos deparamos com pessoas fascinantes pelas ruas? Pessoas que talvez nunca mais vejamos. Protegidas pelos fluxos massivos dos grandes centros urbanos, protegidas por seus compromissos, seus horários inflexíveis, suas agendas lotadas e suas máscaras sociais tão bem colocadas. Observar pessoas sempre fora para mim um passa-tempo, divirto-me muito vendo como andam, sobre o que falavam e imaginar como seriam suas vidas cotidianas: Como e o que comem? Como e com quem fazem amor? Pagam suas contas? Estão foragidas da polícia? Etc.
Imagine-se no topo de um prédio, de lá de cima você vê a rua, a calçada e os transeuntes. Vê uma infinidade de carros, ônibus taxis e motos, cada um deles carregando um universo particular de experiências, desejos, sonhos, objetivos, metas etc. Cada pessoa singular e única perde-se em seu vasto contingente de idéias e imagens formando sua personalidade. Quantas personalidades existem no mundo? O que as pessoas fazem quando ninguém as está observando? O que fazem quando sabem que estão sendo observadas? Como lidam com sua imagem sendo capturada por um estranho? Como você reagiria se fosse seguido pelas ruas por um estranho e durante seu trajeto esta mesma pessoa acompanha-se você por toda a cidade, assistisse você jantando, escolhendo uma roupa em uma loja, indo à igreja. Como reagiria ao perceber a insistência do estranho? Perceber que ele tem uma câmera filmadora e tudo o que você fizer nas próximas horas se transformará em um arquivo atemporal? Você teria medo de voltar para casa? De revelar onde mora? Buscaria ajuda? Onde?
Essas foram algumas das idéias, pensamentos e reflexões que me ocorreram durante a realização da performance.
O procedimento ocorreu dia 12 de Junho, dia dos namorados. Ela começa quando Nancy (pessoa que eu escolhi para seguir – e consigo descobrir seu nome filmando uma conversa dela com uma desconhecida) entra em um ônibus da Linha 584 que vai do Cosme Velho ao Leblon no ponto em frente ao shopping RioSul sentido Copacabana. A figura me causou fascínio: Uma senhora por volta de seus 60 anos, ruiva com um cabelo bastante volumoso, um conjunto todo marrom e um xale branco nos ombros. Sabia que ela seria parte da performance tão cedo a vi. Sentou-se no ônibus atrás de mim e desceu no ponto da Miguel Lemos ainda em Copacabana. Ao saltar do ônibus ela andou na rua em sentido contrário ao dos carros e depois de alguns segundos de filmagem atravessou com pressa a rua. Passou por uma igreja e decidiu voltar, parou à porta conversou com uma outra senhora vendendo doces e entrou, fui atrás dela. Neste momento comecei a tomar dimensão que neste reenactment seria levado a lugares que talvez nunca tivesse ido, veria outra realidade, conheceria um novo universo. A idéia me deixava muito animado. Ela saiu de lá antes que a missa terminasse, para ser mais exato creio que ficamos lá dentro durante 15 ou 20 minutos. Continuou seu trajeto até a Av Nossa Senhora de Copacabana até chegar próxima a rua Santa Clara onde parou em uma padaria (Gourmet 668) para fazer uma refeição. De lá seguimos para a Avenida atlântica para uma caminhada a beira mar (até a Rua Belfort Roxo) durante esse trajeto capturei algumas imagens de seus pés, seus gestos com as mãos durante seu caminhar. Ela parou em frente a um carro estacionado e falou alguma coisa ao interior do veículo, ao me aproximar contatei que o carro estava sem motorista e com dois poodles no seu interior. Nancy seguiu em frente até uma feira a céu aberto que acontece na calçada da Avenida Atlântica próxima à Rua Belfort Roxo. Lá ela inspecionou algumas barracas olhou tecidos, produtos exotéricos e artesanato manual, parou em um estande de vendas. Puxou assunto com a vendedora de Incensos e pedras energizadas. Um pequeno trecho da conversa está no vídeo aditado por um amigo (o vídeo integral será postado mais adiante) . Nele descobrimos que seu Nome é Nacy, que ela estudou canto Lírico, foi professora de canto e gosta de fazer pesquisas na Internet. Tem medo de uma revolução tecnológica e da implantação de chips nas pessoas, ela fala também sobre o fim dos tempos e de como sentia frio em sua casa antes de iniciar a caminhada. Nancy fica ali, conversando com a vendedora, como quem encontra uma amiga de longa data, elas permaneceram assim durante 40 minutos talvez. Saindo da feira a senhora se dirige a um Taxi e é neste ponto que eu encerro a gravação e a performance.
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Interessante trabalho de re-enactment e de costura teórico-prática!
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