quarta-feira, 15 de junho de 2011

Experimento 02 - Carta de Ação e Mapa Situacionista








Ao pegar o mapa de ação trocado fiquei receoso do que me esperava dentro daquela folha ofício dobrada em três partes. Não resisti e li todas as instruções naquele exato momento. Eram 11 simples etapas; caminhe 30 passos; vire a direita; atravesse 3 ruas em caminhar meditativo e etc. Resolvi começar do lado de fora do prédio, mas ainda dentro da faculdade, um lugar “seguro”.
A primeira instrução era “Dê 30 passos e aborde a primeira pessoa que encontrar e pergunte se ela precisa de ajuda”. Na porta do prédio de teatro comecei a caminhar e descobri, surpreendentemente, que 30 passos não cobrem distância alguma. Olhei pessoas vindo em sentido contrário ao meu e fiquei um pouco nervoso. A primeira pessoa que encontrei foi Larissa Landim, uma também aluna de teatro:










Quando eu a perguntei se ela precisava de alguma ajuda ela me respondeu que precisava “fazer hora” até as 19h (isso eram 17:30, no máximo). Mesmo não sendo ordem do mapa de ação, resolvi o problema dela convidando-a para me acompanhar na performance. Ao longo do trajeto fui explicando alguns conceitos dados em aula, pois imaginei que alguém de fora pudessem não entender.
“Continue seguindo e vire na 1ª rua à direita, olhe o céu” foi a segunda ordem do mapa. Ao pararmos vimos isso:


O anoitecer na Avenida Pasteur, por entre as árvores. Estava um dia frio, não era muito agradável ficar parado durante muito tempo num mesmo lugar. A terceira ordem do mapa era para caminhar meditando e atravessar três ruas. Ao longo da Avenida Pasteur não há muitas ruas para se atravessar, então eu e Larissa consideramos como ruas a entrada do estacionamento da Escola de Guerra e o balão que a própria Avenida faz quando passa tangenciando o calçadão da Praia Vermelha. Foi curioso, pois andar meditando nesse lugar me pareceu muito mais difícil do que na Praça XV. A sensação de distensão do tempo continua mesmo assim e todas as pessoas em volta parecem que estão correndo (podiam estar correndo mesmo, era hora do rush).

A ordem seguinte envolvia mais uma interação. “Chame um táxi e pergunte quanto é a corrida até Niterói”. O motorista, super simpático, inicialmente cobrou o valor do taxímetro adicionando o valor do pedágio e mais R$10,00. Perguntei a ele quanto dava isso no total: R$60,00. Acredito que ele me considerou um não-carioca, pois em seguida ele sugeriu um ônibus no shopping Rio Sul. Comentou também que naquela hora tinha muito trânsito para Niterói, mas se eu quisesse entrar no táxi dele não tinha problema, ele iria. Achei engraçado, me senti bem ao conversar com ele. Agradeci e segui minhas instruções no papel. Linha reta devagar; 30 passos; em frente a um prédio, conte o número de apartamentos.




(13 andares x 15 ap/andar/frente x 6 ap/andar/fundos) x 3 blocos =?
1170 x 3 = 3510 aptos!!

Nesse lugar da Urca em que eu e Larissa estávamos não havia muitos prédios em volta. Paramos longe desse complexo de apartamentos, mas contamos as janelas mesmo assim. Fiquei espantado com o número. Não esperava 3510 janelas! Ainda sob o espanto continuamos andando bem devagar, no sentido contrário do qual viemos. Fomos obrigados a virar 180 graus, pois na nossa frente só havia o mar, se seguíssemos sempre em frente não faríamos o mapa até o final. Continuamos caminhando e olhando bem nos olhos das pessoas que passavam por nós, como requisitado pelo mapa. A maioria das pessoas desviava o olhar. Por quê? Medo? Desconfiança? Ninguém olhava muito, estavam sempre fazendo alguma outra coisa. Olhando no celular ou mexendo na bolsa. Não parecíamos chamar atenção, será que era isso? Impossível saber.
Estávamos no sétimo comando agora: “Pare no 1º ponto de ônibus e espere cinco passarem”. Indagados com essa ordem, seguimos até o ponto de ônibus mais próximo e sentamos no banco, discutindo se demoraria muito para passarem cinco ônibus na Urca. Surpreendentemente não demorou muito. O primeiro que passou foi um da linha 107 - A63520. O segundo e o terceiro foram 512 – A37564 e A37522, respectivamente. Esses três ônibus vieram bem rápido para os padrões normais de Urca, mas os outros não demoraram muito além não. O 513 – A37501 e o 107 – A63512 chegaram uns dez minutos depois. Foi o tempo de descansar as pernas no banco.



O próximo passo era continuar andando até virar a esquerda, então dar 5 passos de costas. Eu e Larissa, ao virarmos à esquerda, ficamos na dúvida da direção dos passos de costas. Era voltando da onde a gente veio ou indo na mesma direção somente virando o corpo 180 graus? Escolhemos a segunda opção. Seguimos em frente, de costas.
“Vire-se em linha reta, não desvie de ninguém, vire à direita, anote o endereço do local onde você está, dê referência”. Quando olhamos para o local onde estávamos era Avenida Pasteur, 436, em frente à Biblioteca da UNIRIO, ao lado do cachorro quente do Marcinho e atrás dos ônibus da Universidade. Curiosamente acabamos bem perto de onde eu comecei. Senti-me em casa. Ainda por cima porque alguns conhecidos da faculdade estavam bebendo uma cerveja, sentados no banco conversando. “Volte para sua casa (ou local para onde estiver indo) em passos curtos, volte sorrindo” era a penúltima ordem da carta. Então eu e Larissa voltamos para dentro da faculdade a passos curtos e sorrindo para todos que passavam por nós. Foi uma sensação muito gostosa. Poucos segundos segurando um sorriso no rosto já te fazem sorrir de verdade e a vida fica muito mais leve.



“Andar em passos curtos dá vontade de ir ao banheiro” disse Larissa ao chegarmos ao quarto andar do prédio de teatro. Depois dessa declaração cada um foi se encaminhando para seu rumo, ela tinha aula as 19h e eu ia encontrar uns amigos. Mas a última ordem ainda estava pendente. “Mande uma mensagem para quem quiser dizendo Eu Te Amo”. Cada um mandou uma mensagem de celular. Pouquíssimo tempo depois uma mensagem de resposta para Larissa chega no celular dela. A minha resposta demorou um pouco mais de tempo. É muito bom se declarar para alguém quando se está de bem com a vida. Você se sente bem, em paz.
Foi bastante divertido fazer toda a carta de ação em dupla. Pude compartilhar algumas angústias e dúvidas durante o processo. Não houve quase nenhum momento de desprazer e tensão, somente mesmo no início, que eu ainda estava sozinho. Tenho certeza que a “hora” que Larissa Landim fez comigo foi muito mais produtiva e divertida do que ficar sentada no jardim vendo o tempo passar.

Um comentário:

  1. Experiência e relato interessantes! Falta o translato da experiência individual do homem-caixa!

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