“Seu trajeto inicia na Avenida Portugal, ao lado do posto de gasolina da Avenida Pasteur.
Ao chegar ao ponto inicial, respire fundo até sentir que seu corpo está azul por dentro.”
Começava o mapa de ação.
Lendo o meu mapa eu achei muito interessante como as ações descritas eram muito mais subjetivas que práticas, o que eu achei muito propício à minha deriva.
Durante o experimento em diversos momentos eu me deparei com ações como “tire fotos com a sua retina”, “ouça a música que seu corpo e a rua te oferecem” ou “se você se sentir Retrô cante uma música, Contemporâneo faça uma pose fashion”, senti que não só a subjetividade me fazia sentir muito mais à vontade com o lugar e deixava o meu trajeto mais empolgante, como ela servia ao propósito da deriva, no sentido de que ela liderava o meu andar para onde eu fosse libertando as ações propostas no mapa.
Estamos sempre à procura de um objetivo, andamos pelas ruas sempre pensando no fim, no lugar em que temos que chegar, a deriva é justamente a perda desse fim, do lugar de destino, que substituímos por um trajeto de início e meio contínuo, sem o objetivo final.
Eu começo a pensar que quando pegamos um mapa somente com ações fechadas, acredito que até certo ponto a deriva fique comprometida, pois ficamos muito mais preocupados em cumprir as ações do que experimentar a deriva, esperando sempre pelo próximo passo até chegarmos ao destino final, enquanto que um mapa que possua um grau maior de subjetividade nos faça pensar em como traduzir essa informação na forma em que ela se torne uma ação, o que me traz a idéia de processo, que no final, na arte é o que nos interessa.
Gosto de pensar que a subjetividade das ações nos fazem refletir mais em o que sentimos no momento quando realizamos o trajeto, deixando de lado o fato somente de caminhar, sentimos esse caminhar, porém, essa mesma subjetividade em alguns casos pode ser traiçoeira, nos levando inconscientemente a evitar certos lugares em que nos sentimos menos a vontade.
No meu experimento, quando eu estava derivando em um lugar que não era agradável, imediatamente mudava de rumo para um lugar em que me sentiria mais bem recebida, a falta de uma objetividade em alguns momentos me deixou livre pra fugir de zonas menos agradáveis, e eu não sei até certo ponto o quanto isso pode interferir no experimento da deriva ou mesmo se isso realmente interfere.
Penso que a deriva como a meditação é um exercício de percepção que precisa ser praticado varias vezes até que ele possa realmente ser experimentado. É tão difícil pensar em não pensar como caminhar por caminhar.
A minha escolha pelo mapa de cores foi baseada principalmente nessa questão da subjetividade. Como no começo do mapa “...respire fundo até sentir que seu corpo está azul por dentro.” eu fiquei com essa idéia dentro da cabeça que o meu mapa seria interpretado através das cores, traduzindo o sentimento de cada momento.
Assim, meu percurso virou uma mistura de cores, em que eu passo pelo azul que representa a felicidade para o verde que é a mistura com o amarelo, que é uma cor mais quente que representa onde eu me sentia em uma zona de alerta, do laranja na mistura com o vermelho, que é uma cor de perigo e assim por diante.
Pretendo deixar a interpretação do mapa da forma mais livre possível como o meu próprio mapa de ação era, as legendas se encaixam apenas como suplementos para que o mapa não perca a sua propriedade de mapa, mas ele em si dispensa legendas, porque como no meu mapa de ação, o legal da sua interpretação é que ela possa ficar aberta a múltiplas interpretações e associações.
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