Quando peguei meu mapa de ação, decidi que apenas leria uma ação por vez, sem me precipitar com o que viria a seguir. Dessa forma, poderia me deixar guiar melhor sem antecipar nada.
Comecei a andar bem lentamente, procurando sentir o que o ambiente me trazia enquanto ia desenhando o mapa situciacionista. Virei à direita, à esquerda, e me deparei com o quadrado da Urca. Por algum motivo, nunca havia estado lá, e ali parei para observar um pouco, sentir a brisa e admirar a paisagem além da ponte e os próprios barcos estacionados. Começava a anoitecer e o céu estava com diversas cores. Senti-me muito tranqüila.
Notei que algumas pessoas se aproximavam, e recomecei a andar pela ponte, ouvi vozes mexendo comigo e senti medo. Decidi que era hora de prosseguir e entrar na próxima rua, que me guiava até um parquinho, aonde havia um grupo de adolescentes conversando.
Procurei por algo redondo, algo que eu pudesse rodear e cumprir a próxima ação do mapa. Escolhi uma árvore grande que me chamou a atenção e andei ao seu redor por quatro vezes, em cada uma falando em voz alta algo que estava estagnado em minha vida.
Chamei a atenção de algumas pessoas, mas prossegui assim mesmo. Deveria olhar em volta e escolher o próximo lugar para onde deveria ir. Segui em frente me sentindo inspirada.
Quando li a última ação do meu mapa, fiquei um tanto receosa. Deveria procurar alguém com o dobro da minha idade e pedir um conselho para a vida inteira. Bem, não costumo falar com pessoas desconhecidas, me sinto travada pela timidez. Mas decidi tentar. Escolheria alguém ainda mais velho, algum idoso ou idosa simpática que passasse e parecesse aberta a uma abordagem.
Foi quando comecei a derivar mais livremente. A minha busca por essa pessoa ideal me levou por vários lugares desconhecidos, aonde me embrenhava por ruas e mais ruas, sem saber aonde iria chegar.
Comecei a sentir tédio depois de uns bons trinta minutos, a paisagem não parecia mudar. Eu havia permanecido um bom tempo apenas entre casas e prédios. Decidi voltar para a margem da praia, e ali caminhei mais e em uma única direção.
Passavam pessoas por mim, alguns idosos, mas não me senti motivada a falar com nenhum deles. Queria continuar caminhando, apesar de já estar cansada e me sentir um pouco ansiosa por achar a tal pessoa que já parecia não existir.
Deixei-me levar até ver meu ônibus chegando num ponto próximo e então decidi pegá-lo.
Já havia perdido as esperanças de concluir meu mapa quando entra a idosa perfeita. Ela se sentou na minha frente e ali ficou por uns cinco minutos antes que eu tomasse a iniciativa de abordá-la.
Foi algo extremamente irreal. O jeito como ela se abriu e concordou com meu estranho pedido de forma tão simpática e aberta. Disse que me daria o conselho que dava para seus próprios filhos.
Ela me disse que eu nunca deveria estacionar na vida, porque a vida é muito curta. Sempre deveria inovar porque, não importava como a vida estivesse, pode sempre ficar melhor.
Eu sorri e agradeci, pensando no conselho, em como tinha a ver com o momento que eu vivia. E vi que deveria passar o conselho adiante, que era a última ação do mapa. Achei, sinceramente, que não seria capaz, quando a simpática idosa se voltou para mim mais uma vez e complementou seu conselho.
“Ah, mais uma coisa” – ela disse. – “Namora muito que faz bem!”
Rindo, voltei a lhe agradecer e desci do ônibus, sentindo que esse eu poderia passar adiante.
Foi como se o destino manipulasse meu caminho. Quando entrei no metrô, comecei a ouvir uma conversa de duas garotas que estavam sentadas na minha frente. Falavam sobre o namorado de uma delas, que a havia traído e que ela não sabia o que fazer.
Era a minha deixa. Tomei fôlego e soltei a frase com um sorriso sem jeito. As duas me olharam como se eu tivesse surgido de outro mundo.
Rindo, e bastante sem graça, eu me afastei e continuei a viagem até a minha casa com a sensação de dever cumprido.
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