domingo, 26 de junho de 2011

Re-enactment: [The Lovers – The Great Wall Walk] Marina Abramovic e Ulay

A performance:

Esta performance foi realizada por Marina Abramovic e seu parceiro Ulay. Decididos a terminar o relacionamento, resolveram faze-lo de uma maneira incomum. Por caminhos diferentes e complementares, a dupla percorreu a pé toda a extensão da Muralha da China. Marina Abramovic partiu do extremo leste da Muralha, em direção ao oeste, e Ulay saiu do extremo oeste, rumo ao leste, ambos em 30 de março de 1988. A performance terminou em junho, depois de os artistas se encontrarem na província de Shaanxi, ao se despedirem.

A escolha:

A performance a ser escolhida deveria estar relacionada ao tema “mobilidade na performance”, além de estar conectado a uma questão pessoal. Assim como os situacionistas buscaram relacionar a arte com a vida cotidiana, a relação entre arte e vida, entre a psicogeografia e o funcionalismo moderno, eu deveria buscar em alguma performance já realizada, alguma intercessão com minhas idéias, emoções, filosofias, crenças e descrenças, vida real, virtual e sonhos.

A decisão do meu re-enactment partiu de uma necessidade de pensamentos acerca de relacionamentos. Me encontro num momento de transição muito importante, e como toda grande mudança, merece atenção e reflexão. Para mim essa performance seria um dispositivo de autotransformação, como a citada por Lehmann:

“(..) a ação do artista (performer) está menos voltada ao propósito de transformar uma realidade que se encontra fora dele e transmiti-la com base em uma elaboração estética, aspirando antes a uma ‘autotransformação’. O artista performático organiza e realiza ações que afetam o próprio corpo. (...) Pode ser que ele rejeite a idéia de ser o outro de um personagem e represente a si mesmo.”

Quando Marina e Ulay decidiram terminar o relacionamento e realizaram essa performance, a intenção era de após o momento do encontro eles seguissem, cada um por seu caminho. Essa

cisão significou uma transformação na vida e na carreira dela:

No início do meu trabalho, eu estava explorando muito mais a energia masculina do que a feminina, até me juntar ao Ulay. (...) Quando nos separamos, na Muralha da China [The Lovers - The Great Wall Walk, 1988], eu efetivamente me tornei feminina. No começo do meu trabalho, ser feminina era como uma fraqueza, pois você tem sempre que ser forte e masculina, também na aparência. (...) Depois da Muralha da China (...) eu precisava mostrar toda a minha fraqueza (...)”

Ao contrário de Marina, tomei a decisão de me separar do meu companheiro apenas espacialmente, mantendo os laços amorosos, mas o objetivo principal não é seguir um caminho alienado ao dele, não foi uma decisão fundamentada no meu próprio ego, ao contrário disso, o principal objetivo é manter a existência de um “nós”. Para isso decidi

abrir mão do companheirismo, da rotina a qual nós já estávamos presos (e que fique claro que a rotina pode ser uma coisa boa), ao conforto de ter um colo, à proteção de tudo que pudesse nos atingir etc. Está sendo de fato muito difícil continuar com meus planos, ainda mais sabendo que ele não acredita que vá dar certo, tanto quanto eu.

Para que pudéssemos refletir juntos sobre todas essas questões que perpassam nossas vidas, decidi propor a ele que participasse dessa performance. A tarefa não foi fácil, ele não é íntimo dos conceitos da performance, sempre teve um certo preconceito a esse estranho mundo da arte contemporânea. Porém quando eu certifiquei que ele não teria que aparecer, nem falar com estranhos, nem fazer nada esquisito na rua, ele aceitou.

Este translato se divide em duas partes: “O q

ue deveria ter acontecido” e “O que aconteceu”.

1-O que deveria ter acontecido:






Após nos encontrarmos no lugar em que nos vimos pela primeira vez, deveríamos relembrar todas as coisas maravilhosas pelas quais passamos juntos, deveríamos sorrir e chorar juntos, nos abraçar, nos beijar... e depois cada um voltaria para sua casa com a certeza de que mesmo com a separação espacial, continuaríamos nos amando e tentando ficar juntos.

2- O que aconteceu:

O inicio transcorreu como o imaginado. Saímos, cada um da casa dos respectivos pais, eu parti de Macaé e ele de Unamar (distrito de Cabo Frio), com destino a Rio das Ostras. Remontando mais ou menos o que aconteceu em janeiro de 2007, quando nos conhecemos.

Como eu havia combinado, nenhum registro deveria ter a imagem nem a voz dele. Para solucionar propus que filmássemos os caminhos por onde passássemos, eu optei por filmar a paisagem e a estrada, ele optou por filmar o céu.

O único dispositivo de registro que ele tem é um celular que pode filmar por cerca de 1 minuto, o detalhe que não foi lembrado é que o cabo para retirar os dados do celular não funciona mais. As coisas começaram a desandar.

No dia combinado, sexta-feira, meus pais decidiram que iriam comigo para Rio das Ostras, como o caminho é longo e o transporte é escasso, resolvi pegar uma carona no fusquinha deles. Chegando lá me convenceram a assistir um show do Festival de Jazz&Blues e marcar a ação com o Thiago para noite. A idéia me pareceu bem plausível, já que talvez nunca mais tivesse a chance de ver aquela magnífica banda numa apresentação gratuita.

A noite fui para o local marcado, decidi ir a pé, pois achava importante uma preparação, fiz uma caminhada meditativa até o local. Meus pais marcaram de ir embora as dez, a essa hora não existe outra maneira de voltar para a nossa casa, então não poderia desencontra-los.

No outro lado, o Thiago saía de casa tranquilo, sem nem imaginar o que viria dali a alguns minutos. A distrito que fica entre Unamar e Rio das Ostras (Barra de São João) estava em festa, no dia de São João, padroeiro da cidade. Lá qualquer festa causa um enorme engarrafamento, principalmente por causa de uma ponte estreita que é o único jeito de atravessar o rio. O percurso dele que era para durar 40 minutos acabou se estendendo por 3 horas.

Antes dele chegar em Rio das Ostras, eu tive que ir embora, liguei e pedi pra que ele fosse ao meu encontro, por sorte ele conseguiu chegar a tempo de pegar o ultimo ônibus, depois de tantos imprevistos, pelo menos uma coisa deu certo.

Chegando à casa dos meus pais , tivemos a conversa que deveríamos ter tido lá. Relembramos todas as coisas maravilhosas pelas quais passamos juntos, sorrimos e choramos juntos, nos abraçamos, nos beijamos... agora voltaremos para a nossa casa no Rio de Janeiro com muitas incertezas, com muitas dificuldades porvir, porém conscientes do amor recíproco e da vontade de ficarmos juntos.

A conclusão:

Segundo Lehmann a arte performática lida não com uma representação, mas uma experiência do real (tempo, espaço, corpo) que visa ser imediata. É uma arte efêmera, que está ligada com o agora, com o acaso. Na tentativa da minha performance, nada ocorreu como o esperado, mas frente aos imprevistos segui na tentativa de concluí-la.

Eu não quis em nenhum momento forçar os acontecimentos em nome de um roteiro pré-existente, vivi o momento e dele retirei reflexões que agora pus neste texto.

“O acaso é o grande senhor de todas as coisas. A necessidade só vem depois. Não tem a mesma pureza.” (Luis Buñuel)

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Translato - Jefferson Almeida

Não me parece honesto começar o “translato” da minha experiência, sem, antes, narrar o tortuoso caminho até ela. A mim, a performance sempre pareceu surgir de um impulso pessoal. Um artista (ou um grupo de artistas) resolve comunicar o que o afeta no que tange quaisquer dos aspectos da vida (arte, vida, morte, política, filosofia, religião etc.). Logo, só me parecia possível pensar uma atitude performativa, da minha parte, dentro dessa cadeia: algo me afeta, e, por isso, escolho uma linguagem para dar forma essa afetação e, com isso, criar novas afetações.

(Quase) Todas as leituras desse curso, pareciam reforçar meu pensamento. E, com isso, gastei grande parte do curso para tentar descobrir, em mim, qual era a minha questão. O que estava me afetando e que eu traduziria através de uma provocação performática? Elenquei algumas. Chegamos, então, ao segundo ponto de crise: não bastava ter uma questão, era preciso ponderá-la e enquadrá-la (ou adequá-la) a uma performance já existente, afinal de contas, o curso se dedica a estudar e pesquisar o re-enactment, e, como sendo pouco, trabalhamos, desde um início, com um tema central, que unia todas as performances trabalhadas: a mobilidade.

Esse caminho, para mim, estava impossível. Busquei, então, outro. Qual, de todos os exemplos de performances que foram apresentados à turma, me afetou? Cheguei, então, ao meu objeto, aliás, aos meus objetos: a ação acontecida em Curitiba, em 17 de Maio de 2004 (Dia Internacional dos Museus), quando a cidade foi tomada por centenas de chaves com indicações de que seriam chaves pertencentes ao Museu de Arte Contemporânea de Curitiba (MELIM, Regina: 2008. p. 36); e, a ideia da distribuição dos Cartões do grupo Fluxus (MELIM, Regina: 2008. p. 57).


O QUE ESTÁ AO SEU LADO? O QUE ESTÁ A SUA FRENTE? O QUE ESTÁ AO SEU REDOR?

Escolhi como terreno para minhas ações, o complexo da UNIRIO localizado na Av. Pasteur, que une o CLA (Centro de Letras e Artes) e o CCH (Centro de Ciências Humanas). Preparei ambas as ações pra acontecerem na Semana da Integração Acadêmica, onde há um grande fluxo de pessoas, não necessariamente alunos da instituição. É, também, importante lembrar que, desde o início do semestre, um nicho dos alunos da Escola de Teatro convocou reuniões e organizou manifestos contra a impossibilidade de os mesmos usarem as salas da Escola para seus ensaios, devido a implantação, recente, do curso de Letras e pela quantidade de Práticas de Montagens em andamento.

Dentro deste panorama, à partir das 13h do dia 13 de Junho de 2011, comecei a “perder” chaves por todo o complexo. Nos identificadores das chaves (que eram verdes) números e nomes de salas da Escola de Teatro (Direção da Escola, Sala Cinza – cabine, Lucília Perez, 3602, 3301 etc.). Foram, ao todo, 30 chaves nomeadas espalhadas por toda UNIRIO. Simultaneamente, comecei a distribuição dos Cartões (que estavam em envelopes verdes). Nos cartões, mais de cem frases de pensadores de todas as épocas com um tema em comum: HONESTIDADE.

A honestidade era, então, o ponto de união entre as duas ações. Até que ponto os alunos (que reclamam as salas) se colocariam contra as suas vontades em detrimento de uma atitude honesta? Até que ponto os não-alunos estão dispostos a mudar os seus caminhos pela mesma razão? Será que o que estava escrito nos cartões teria potência para incutir nos alunos e não-alunos a necessidade da honestidade? Será que aquela comunidade estava disposta a mudar uma duna de lugar?

Mas, ora, se um dos conceitos fundantes da performance diz respeito a presença, “produção de presença”[1], ao corpo presente do performer no momento da ação, como enquadrar a ação das chaves nessa categoria?

Regina Melim aponta para o alargmento do termo performance, substituindo “o estereótipo que associa a noção de performance a um único formato – tendo o corpo como núcleo de expressão e investigação.” (MELIM, Regina: 2008. p. 8) Em seu texto Performance nas artes visuais, a pesquisadora pretende oferecer o uso do termo a outras formas de experiências, como produção de vídeos, instalações, desenhos, filmes, textos, fotografias, esculturas e pinturas. (IDEM) Ademais, como nos mostra o artigo O re-enactment como prática artística e pedagógica no BrasilI, da professora Tânia Alice citando Gumbrecht, na pós-modernidade há uma grande tendência a “produção de sentido” ao invés da “produção de presença”. E o sentido, não necessariamente está ligado a presença do corpo do performer, mas, da sua ação.

Indo um pouco além, a ação das chaves conta com uma ausência. A ligação do acontecimento (perda) a um performer faria cair por terra todo o sentido do trabalho. É preciso que, inclusive, o acontecimento não ganhe o status de performance enquanto acontece, ao contrário, precisa estar no campo do cotidiano. É preciso, simplesmente, que as chaves estejam “perdidas”, e, sem um dono, além da instituição que figura nos seus identificadores.

Uma pessoa que tenha encontrado uma chave e recebido o cartão, talvez ligasse uma coisa à outra. Mas, uma ação não dependia da outra, apesar de terem sido elaboradas como um circuito – entendendo circuito a partir da visão de Deleuze, em A imagem-tempo.

Três dias depois de as chaves serem perdidas, nenhuma delas havia sido retirada do lugar. Esse fato me despertou para uma segunda possibilidade de leitura da ação, a qual se refere o título deste texto: as pessoas, de fato, vêem o espaço que elas frequentam? Cerca de 30 chaves estavam espalhadas/”perdidas” por aquele lugar há três dias e não haviam sido encontradas, apesar de a Escola estar em uma semana de supermovimento. E nós, que conhecemos intimamente a Escola, sabemos que o jardim, por exemplo, está longe de ser um lugar de passagem, ao contrário, é uma espécie de área de convivência; alunos e não-alunos se encontram no jardim e nele ficam por muito tempo.

Resolvi dar um zoom na ação e “perdi” outras 50 chaves, mas, dessa vez, sem identificação. Chaves anônimas, de qualquer um. E voltar a distribuir cartões.

Entre o quarto e o quinto dias da ação (quinta e sexta-feiras) todas as chaves identificadas foram encontradas e muitas das não identificadas. Das 30 chaves identificadas, nove foram devolvidas à segurança da Escola. Das 50 chaves não identificadas 14 foram devolvidas. Algumas AINDA não foram encontradas.








[1] Expressão cunhada por Hans Ulrich GUMBRECHT em Produção de presença – o que o sentido não consegue transmitir.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Catita [performance individual]

“Sem dúvida eu estava tentando provocar com essas figuras”

“...o que eu sou contra é como nossa cabeça ferra a gente com o que a gente devia ser, em vez de pensar no que a gente é.”

“ Eu via algo realmente interessante naquilo que os outros chamam de feio. Além do mais, vejo graça no grotesco.”

“Meu modo de trabalhar é não saber o que estou tentando dizer até ficar quase pronto.”

“Estou num ponto em que, quando quero usar a mim mesma, eu uso e, quando não quero, não uso.”

“ Conforme o tempo passa e eu envelheço, vai ser interessante ver como incorporo isso ao trabalho.”





As falas acima são da artista Cindy Sherman. Quando, enfim, decidi o que seria a minha performance, me deparei com essa mulher. E, de imediato, a identificação se fez muito presente. Posso apontar essa identificação em três características: a inquietação com o feminino e a beleza, a maneira de se pensar e de se comportar quanto a isso e em sociedade, e a comunicação através de imagens (eu sou péssima para escrever). Ao mesmo tempo que Cindy serviu como forte embasamento para o meu trabalho, sinto que, de certa forma, fui livre para executá-lo à minha maneira. Em geral, Cindy apenas fotografa suas questões- no início de sua carreira, ela ainda se produzia e ia trabalhar cada dia de uma maneira, mas depois abandonou isso (“Lá, ela também ia trabalhar de vez em quando caracterizada como outra pessoa- uma enfermeira de uniforme branco, uma secretária dos anos 1950-e, todo mundo achava aquilo estranho e engraçado; mas ela parou porque, como disse, ficou com medo de perder sua ‘identidade pública’, ‘coisa realmente necessária em Nova York’”).





Escolhi me caracterizar de maneira atípica a como me visto no meu dia-a-dia e ir para uma boate. Procurei criar um personagem que pudesse ser o mais real possível para que qualquer reação de terceiros fosse de fato pelo que eu era naquele momento, e não pelo que eu tentava mostrar/dizer. Fui acompanhada de duas amigas vestidas normalmente, para que ficasse bem claro que de fato eu era e me vestia daquela maneira. Eu já esperava grande parte das reações: funcionários tentando fingir naturalidade ao me ver; as mulheres me olhando de maneira desprezível, seja porque eu estava fora dos padrões de moda e beleza delas, seja por estar parecendo extremamente vulgar e sexual (o sensual se perdeu aqui); os homens olhando e pensando nas maravilhas que eu seria capaz de fazer na cama. Eu pensei que atingiria mais as mulheres, que o maior incômodo seria delas, mas, quando elas não me olhavam com esse olhar recriminador, apenas riam e me apontavam para os amigos. Já os homens me surpreenderam (e também me decepcionaram). O que me chamou a atenção não foi o fato de eu fazer sucesso com eles, mas o fato de eu ter atraído todos os tipos masculinos daquele lugar: homens comuns, homens lindos que parecem esculpidos, homens novos, velhos, bêbados, sóbrios, gringos... Foi interessante também perceber que mesmo eu não estando confiante, não me sentindo bonita daquela forma, isso não fez diferença. O que importava era o que eu parecia. Ainda assim, outro fato curioso foi o de dois homens, aparentemente da mesma idade que eu, que ficaram extremamente incomodados comigo. Se eu estivesse perto deles ou em seu campo de visão, eles mudavam radicalmente: paravam de dançar, ficavam mais sérios. Um às vezes esboçava um sorriso nervoso e o outro ficava seriamente irritado. Aos poucos arranjavam uma maneira de sair de perto disfarçando o motivo disso.





De início, pensei em criar um comportamento para aquele personagem, mas percebi que teria de fazer coisas que eu não faço na minha vida e talvez criaria um conflito com isso. E, assim, sem perceber, me comportei mais uma vez como Cindy se comportava quando ela ainda se caracterizava para ir a alguns lugares, mas não agia diferente por causa disso (“De vez em quando, nas festas ou inaugurações das mostras, ela aparecia vestida de algum personagem- como Lucille Ball, numa ocasião que se tornou memorável, ou uma dona de casa grávida, toda arrumada com uma daquelas roupas desajeitadas que ela vivia catando nas lojas de miudezas da cidade. Não encenava o personagem assumido nem procurava chamar a atenção para si: era a mesma Cindy quieta, porém brincando de se embonecar").





O trabalho de Cindy instiga porque nos chama a ver de frente mesmo a mulher, o feminino, o ser humano que existe ali. Ela nos faz perceber que ainda nos guiamos e nos relacionamos pelas máscaras sociais que nos são impostas e que nós mesmos criamos e, assim,- “o que se entende de sua obra (...) é que a artista faz, por meio dela, uma denúncia dos lugares estereotipados destinados à mulher em nossa sociedade. (...) o desvelamento progressivo das muitas máscaras da mulher, que culminam na aproximação com o vazio entendido como castração. Ou seja, os lugares destinados e desconstruídos, levariam a que se descobrisse a verdade última e o lugar essencialmente feminino ao se revelar, quando todas as máscaras caem, a mulher enquanto castrada.”- propõe com suas imagens, que sejamos capazes de perceber o que, de fato, é a mulher, o humano ali.

Ao sair da boate, o que ficou na minha cabeça é que, apesar do ego massageado pelos homens- afinal, quem não gosta de se sentir desejado pelo outro?-, eu preferiria mil vezes passar despercebida- como geralmente passo- por ali. O que chamou a atenção das pessoas- por mais chocante e desprezível que parecesse em certos momentos- não foi de fato o que nós somos, mas o que tentamos ser por algum motivo- em sua maioria, ser aceito, ter a sensação de pertencimento. E a sugestão de Cindy com seu trabalho, de que essa aceitação é possível por simplesmente sermos quem somos, não só me fascina como me parece, quase sempre, meu objetivo de vida.

REFERÊNCIAS:

TOMKINS, Calvin. As Vidas dos Artistas (Cindy Sherman). BEI Editora, São Paulo, 2009

RIBEIRO, Alessandra Monachesi. O Grotesco, o estranho e a feminilidade na obra de Cindy Sherman. IDE Psicanálise e Cultura, São Paulo, 2008

Casa à Deriva

O segundo experimento coletivo da disciplina se deu no dia 25/05/2011. A proposta era que derivássemos a partir de um mapa situacionista elaborado por algum colega de classe. O local para a deriva foi a Urca, bairro em que estudo e moro. Minha única preocupação com esse experimento era não me deixar influenciar tanto quanto ele propunha. Como sou muito curiosa, li o mapa inteiro antes de começar e, por ser bem tranqüilo, procurei ao máximo vivenciar cada comando. Coloquei na cabeça que conhecia a Urca apenas no trecho da UNIRIO, para que pudesse me deixar levar pela proposta do mapa, e não pelo que eu já conhecia do bairro. A ideia do urbanista errante foi fundamental nesse momento:

“O urbanista errante- que, como no caso do arquiteto urbano, seria sobretudo uma postura com relação ao urbanismo enquanto disciplina e prática- seria aquele que busca o estado de espírito errante, que experimenta a cidade através das errâncias, que se preocupa mais com as práticas, ações e percursos, do que com as representações gráficas, planificações ou projeções, ou seja, com os mapas e planos, com o culto do desenho e da imagem. O urbanista errante não vê a cidade somente de cima, em uma representação do tipo mapa, mas a experimenta de dentro, sem necessariamente produzir uma representação qualquer desta experiência. Esta postura com relação à apreensão e compreensão da cidade por si só já constitui uma crítica com relação tanto aos métodos mais difundidos da disciplina urbanística- como o ‘diagnóstico’, baseado principalmente em bases de dados estatísticos, objetivos e genéricos- quanto à própria espetacularização urbana contemporânea.”


Em um dado momento, a sugestão do mapa era que eu meditasse na praia, e essa ação foi a mais importante para mim. O mar já é algo que por si só me tranqüiliza e esvazia a cabeça, e a meditação me ajuda a focar minha atenção, a me concentrar. Depois disso, me deixei levar mais facilmente. Não muito tempo depois, comecei a reparar nas luzes da praça General Tibúrcio, na Praia Vermelha, e passei a seguir as instruções do mapa me deixando guiar pelas luzes das casas. A Urca é um bairro atípico do Rio de Janeiro e, por isso, dá mais espaço para sermos lúdicos, mudarmos o nosso tempo, a nossa correria. E, a partir desse maior espaço, desse espaço instável e em movimento, que me vi de fato derivando, percebendo o que me chamava atenção nessas luzes: a sensação de cidade pequena, a ideia de que à noite as pessoas se reúnem na praça da cidade para conversar, rir, se divertir. E, naturalmente, o caminhar lento do urbanista errante se instaurou. Eu passei a andar porque as luzes me atraíam, não porque tinha uma tarefa a cumprir, um lugar para chegar. A ideia da deriva consiste, basicamente, em andar sem rumo, sem propósito, se deixar levar apenas. Somada a um mapa situacionista essa ideia se preenche de novas ressignificações do espaço urbano, espaço esse que, muitas das vezes é mais a nossa casa do que aquele lugar em que dormimos, comemos, tomamos banho, assistimos TV com a família. Enxergar a cidade de dentro é, de certa maneira, tomá-la para si, torná-la o nosso lugar agradável, querido, confortável e disposto à nossa maneira. E isso não atrapalha em nada o nosso ir e vir com metas e tarefas a cumprir, apenas torna essas coisas mais fáceis e prazerosas de se realizar.


Referência bibliográfica:
JACQUES, Paola Berenstein, Elogio aos Errantes: a arte de se perder. Salvador: Editora WB. 2006.

Experimento 03 - O Homem-Caixa ou Os Mesmos

Resolvi desenvolver meu experimento baseado nas esculturas com suéter de Erwin Wurm e ir além. As esculturas são por essência obras estáticas, eu queria desenvolver alguma ação com aquele novo corpo. Imaginei uma ação simples, como andar, porém com outro corpo. Criei então o Homem-Caixa, um corpo retangular sem braços, que me gerou uma sensação muito curiosa. Eu, de dentro da caixa, não me reconhecia no espelho. Eu era um corpo estranho. A caixa de papelão como material não-elástico me retirou a potencialidade de extensão que o corpo humano possui. Apesar disso eu não me senti preso em momento algum dentro dela.



Quando cheguei na Unirio para montar a caixa em meu corpo eu ainda não tinha noção de como as coisas iriam acontecer. Chamei o Jefferson para me ajudar e registrar a performance. Encontramo-nos às 11h e combinei com ele que eu iria andar até o shopping Rio Sul e lá iríamos ver como ia terminar. Este relato tem duas partes. Aqui começa a primeira.

Parte 1

Ao caminhar pela Avenida Pasteur as pessoas em volta me olhavam com certo estranhamento, algumas riam e comentavam. A maioria ao menos olhava continuadamente até eu passar por elas. Eu as retribuía o olhar com um leve sorriso no rosto e quando os olharem se encontravam por mais de um segundo eu as cumprimentava com um aceno de cabeça. Teve uma senhora que me perguntou onde havia um orelhão que ela pudesse telefonar, porém eu sem nenhum braço para apontar a direção, simplesmente falei “Para lá tem!” e indiquei com o rosto.

Entramos na Rua Professor Xavier Sigaud e logo encontrei um professor da Unirio amigo meu. Ele parou, olhou para mim alguns segundos indagando o que era aquilo e me cumprimentou seguindo o seu caminho. Achei muito curioso encontrar um amigo porque eu me encontrava numa situação muito diferente do normal. Se eu quase não me reconheci no espelho, imagina ele me vendo.

Fui caminhando até o shopping. Quase na porta passei por uma criança e ela não tirava os olhos de mim com um enorme sorriso no rosto. Me senti acolhido, e não mais estranhado, e me relacionei com ele perguntando se estava tudo bem. Ele sorriu mais em resposta. Entrei no shopping e aqui termina a Parte 1 do relato.






Parte 2

Ao entrar no shopping pela porta lateral fui imediatamente à escada rolante mais próxima e subi. Quando olho para trás e para o andar em que estava chegando já estava rodeados pela segurança do lugar. Uns quatro a cinco guardas me abordaram (eu e Jefferson, na verdade) e proibiram de continuar a performance alegando que nós não tínhamos autorização. Em seguida nos levaram para o chefe da segurança nos “porões do Rio Sul”. O fato de termos uns cinco seguranças nos escoltando chamou muito mais atenção para a performance do que se tivesse continuado normalmente. Descemos uns lances de escada e chegamos na área de entregas. Todos lá ficaram meio surpresos e espantados em ver um homem vestindo uma caixa de papelão. Esperamos alguns minutos para o chefe da segurança chegar. Enquanto isso, perguntei no nome do segurança que tinha me abordado. Davidson. Então ele me perguntou qual era a minha profissão. Respondi honestamente “Sou ator”, ele riu e reclamou que ia perder a hora de almoço. Fico me perguntando o real valor social da nossa profissão. Será que algum dia a gente vai valer mais que um almoço?

O chefe da segurança chegou já reclamando agressivamente perguntando o que era aquilo que estávamos fazendo. Antes de mais nada, fui educado e o saudei com um Boa tarde e me apresentei. Perguntei o nome dele e ele me respondeu perguntando o meu nome, sendo que eu tinha acabado de dizer. (Será que ele ouviu o que eu tinha acabado de falar?) Mantendo a educação respondi novamente e ele me mostrou a carteira da polícia dele e falou “Eu sou Haroldo”. Eu e Jefferson explicamos para ele o que era a performance, um trabalho de faculdade, que a filmagem era somente o registro do acontecimento, mas mesmo assim ele não deixou continuarmos. Perguntei porque e ele falou que nós não tínhamos autorização para filmar nada no shopping. Aí eu perguntei se se não filmássemos poderíamos continuar a fazer a performance. Depois de quatro ou mais tentativas de entender o que estava sendo perguntado ele alegou que a performance poderia causar “modalidade de curiosidade e modalidade de estranhamento” nas pessoas. Não era esse um dos objetivos da performance? Questionar alguns modelos de comportamento e gerar estados de presença nas pessoas alienadas pela sociedade de consumo, a sociedade do espetáculo, de Debord? Não é permitido sair das normas, dos limites, das regras de um ícone da sociedade de consumo como um Shopping Center. Não me foi permitido instigar as pessoas a pensar.

Ele pediu para ver no vídeo a parte que foi filmada dentro do shopping e pediu para a apagarmos. Era o final do vídeo e ali naquele momento era impossível fazer o requisitado. Haroldo demorou a entender que realmente era impossível editar o filme no celular e resolveu nos levar para a gerência do shopping. Na hierarquia da segurança e da gerência do shopping vê-se claramente o nível de instrução de pensamento das pessoas. O segurança Davidson me abordou e seguiu um procedimento em que constava seguir uma ordem superior. O chefe da segurança Haroldo também seguiu um procedimento padrão e não soube responder em momento algum porque não era permitido gerar curiosidade e estranhamento nas pessoas. O único problema acordado por todos ali presentes era que sem autorização não era permitido nenhuma filmagem dentro do shopping. Na verdade o problema das modalidades (curiosidade e estranhamento) nem o gerente soube responder. Leandro, o gerente que nos atendeu, aparentava uns 25 a 30 anos, mas também não conseguiu nos explicar a proibição. Parecia-lhe uma idéia tão absurda andar vestindo uma caixa que só poderia ser proibido de ser feito. Não haveria jeito. Se quiséssemos continuar teríamos que ter uma solicitação da faculdade pedindo uma autorização para filmar alguma coisa dentro do Rio Sul. Jefferson e eu concordamos que não fazia mais sentido continuar com a performance depois de toda a “burrocracia” instituída. Leandro me deu o e-mail para mandar a tal solicitação e a descrição da performance para análise do departamento de marketing. Inacreditável! Enfim, voltamos para Unirio sem filmar mais nada e carregando a caixa na mão. Aqui está o link do vídeo tão questionado.

http://www.vimeo.com/25433710

Quando a arte rompe com o espaço social cotidiano, com suas regras e limites, constrói-se uma presença, mesmo que efêmera. Um fenômeno artístico relacional faz com que o cotidiano das pessoas se transforme para algo mais vivencial e afetivo. O curioso e estranho fazem parte disso. As pessoas são afetadas pelo performer de uma forma ímpar e isso “significa postular a idéia de uma postura menos passiva, por parte do público, diante da vida social.” Priscila Arantes



domingo, 19 de junho de 2011

Re-enactment: Pac-man Rémi Gaillard


Como nunca havia feito uma performance antes, tirando as duas experiências coletivas realizadas durante o curso, comecei partindo do zero. O que é performance?
Devo admitir que na primeira vez que escutei que a aula de ATAT seria focada em performance, torci o nariz, pois sempre tive uma espécie de preconceito a este tipo de arte. Muitas coisas que eu via por ai eram sem sentido para mim, e muitas vezes eu achei que performance representava algo que simplesmente tinha o intuito de chocar, que se tratava somente de uma ferramenta de critica, e em muitos casos era agressiva ao olhar.
Mas foi durante o curso que entendi como a performance trabalha e que por ser um campo tão expansivo ela na verdade pode vir a ser ferramenta para qualquer questão.
“O termo “performance” é tão genérico quanto as situações nas quais é utilizado” - Regina Melim
“... quando o assunto é performance, é sempre um número muito variável de concepções, as quais não se postulam como obrigatórias para atingir um consenso.” - Regina Melim
Então, se não existe uma definição exata para performance. O que fazer?
Com essa pergunta comecei a procurar o que me interessaria falar sobre algo que dialogasse com questões atuais do artista, foi aí que me deparei com as performances de Rèmi Gaillard que a princípio parecem para puro entretenimento, mas ao analisarmos com calma vemos que existem questões muito interessantes em seus vídeos cômicos.
Vivemos em uma época de falta de recursos na arte, em que parece que tudo que podia ser criado, falado, criticado já foi feito, trazer o pac-man para a realidade resulta numa releitura da arte como expressão, a sua multiplicidade e o espaço que isso ocupa no campo das artes com que ela dialoga.
A cultura de massas invade o campo das artes e se apodera de seus meios de expressão. A performance do pac-man pode ser interpretada como uma extensão do conceito de pop art de como somos bombardeados pela mídia e como isso afeta a criação artística, que através do lúdico se materializa em expressão.
O que eu acho legal desse tipo de performance, é que ela integra as pessoas a volta por se tratar de um objeto conhecido da cultura pop, temos um estranhamento, porém sem oprimir as pessoas, ela não repele a interação externa como acontece em alguns tipos de performance.

A performance:
Meu re-enactecment começou na Urca na Unirio que seria também o ponto final da performance.


Diferente de Rèmi, que ele aparece somente em lugares fechados, resolvi estabelecer um trajeto em que pudéssemos alternar lugares abertos e fechados podendo assim experimentar mais o espaço.
O começo da perfomance foi bem dinâmico, com o mapa na mão corremos pela avenida Pasteur, passando pelos pontos de ônibus e surpreendendo as pessoas, mas logo o condicionamento físico seria um problema. Como o trajeto seria feito todo correndo percebi que não seria possível continuar em um ritmo acelerado, então desaceleramos e estabelecemos que em alguns momentos iríamos parar para tomar fôlego, formando um círculo com o pacman no meio e os fantasmas a volta, após a breve pausa, continuávamos o trajeto.
Tivemos diversas reações das pessoas, algumas riam tiravam foto e outras que simplesmente olhavam e ignoravam deletando a visão ou olhavam através de nós como se não existíssemos como uma espécie de vergonha alheia.
Não tivemos problemas para transitar pelos lugares abertos. Nos lugares fechados como nos shopping, os seguranças iam nos cercando e pediam para que nos retirássemos, mas ignorávamos e continuávamos o trajeto, caso eles se aproximassem demais acelerávamos o ritmo fugindo de um contato direto com eles.
A volta foi tranqüila, mas com o ritmo bem reduzido,o trajeto todo levou cerca de uma hora e meia para ser concluído.

Memória




Bom , chegou a hora de finalmente postar minha experiência com matéria de atat , ministrada pela prof.Tânia Alice , figura querida de grande parte dos alunos da uni rio. optei pelo título , pois a partir das performances que fiz. vi talvez uma conexão entre elas tantas , tanto no campo lúdico , quanto emocional e quando realizei a segunda performance já pensando na performance individual que teria realizar mais a frente,vi que tinham uma conexão mesmo que a segunda tenha partido não de mim, mais terceiros. Estava tudo muito claro para mim.
PRAÇA XV
A performance da praça XV , que começou meus pensamentos . eu estava em um processo de criação de um espectáculo teatral , e já não estava dando conta de mais nada , "dando as coisas seu devido valor" estava esquecendo muitos afazeres , literalmente , a partir de da ideia " aquilo que é um fardo" explorei algo lúdico que não se vê não se pode tocar , não se pode ver , está dentro de nós .não podemos dominá-la . A MEMÓRIA. a lembrança . então comprei bilhetes de recado , que comecei " a tentar me lembrar aquilo que esqueço" , com barbantes , fiz uma coroa de lembrete , pulseiras , colei alguns lembrete em minhas roupas , e junto com meu grupo que também carregavam seus pesos de suas vidas cotidianas . andaríamos por parte da praça XV até a av. rio branco (esse era o intuito inicial) , Primeiramente, meditamos para começar , prática que se tornou comum durante um tempo em minha vida , não sei por que não realizei com tanta frequência , e foi se perdendo na minha vida . estávamos realizando a meditação e , claro com olhares curioso em cima de nós , nos olhando tentando compreender o porque daquilo tudo. então andamos , mas não era um andar cotidiano , era um andar lento , em contra posição a ritmo acelerado daquele lugar , andamos juntamente em grupo formamos uma filas , depois andamos em uma espécie de coro levando os pesos da vida.Eu percebi numa hora que uma coisa incrível , quando estávamos no porto das barcas as pessoas formavam filas , rapidamente e essas filas se dispersavam e se formavam novamente como um "flash-mob" .Continuamos a andar tendo a percepção de que as pessoas falavam sobre nós , eu ouvi uma que acho que seria diretamente para mim assim : " carrega papel é fácil, quero carrega o que eu carrego" , nos continuamos nosso caminho até a av. rio branco , e nesse caminho comecei a querer saber o que escrevi nos papeis de lembretes , pois , escrevi aleatoriamente aquilo que mais esquecia de fazê-lo , me deparei que nessa época eu esquecia principalmente de comer , de descansar , era uma necessidade latente que verberava na minha mente , mesmo em diferentes palavras isso vinha. chegamos na rio branco um ambulante disse : "isso vai virar filosofia, ei !" algumas pessoas de nosso grupo pararam , outras continuaram até a cinelândia não tive vontade de parar estava curtindo esse momento de uma caminha lenta de percepção em mim a ao meu redor . paramos na cinelandia . e ficamos algum tempo depois...acabou.
MAPA SITUACIONISTA :
Meu mapa começou na av. pasteur , deveria contar 5 segundos e nesses 5 segundos contar quantos onibus passavam naquela av.pasteur passou 2 onibus e mais 5 segundos se passariam pessoas com calça jeans nesse tempo passaram e em bando. deveria dar 5 passos observar o chão em que piso . observei era cheio de rachaduras e empoeirado , tive que contar quantas folhas estavam caídas no chão , comecei a contar e tive que contar até chegar na praia. queria de alguma maneira contar todas as folhas que eu tinha em meu campo de visão , de alguma maneira , virou-se uma obsessão , queria contar a qualquer custo , 454...455..456! foi o máximo que conseguir contar , mas deveriam ter com certeza 648! cheguei a praia e observei , a areia estava fria , suponho eu que talvez a agua estivesse quente deveria de tirar uma foto em minha mente. daria o título da foto de: HOMENS PESCANDO - homens de todas as idades , brancos , negros , morenos , crianças , gordos , magros , fortes ... um homem dentro da água com uma rede e uma onda o quase o derrubando , nas pedras luzes , se olhasse com mais percepção também eram homens que pescavam , ao longe luzes de niteroi ,talvez e uma lua vergonhosa se escondendo entre as nuvens. respirei . ri.e gritei . espanto de quem estava mais perto de mim.escrevi uma frase e enterrei ela na areia. cantei vento no litoral do legião urbana http://www.youtube.com/watch?v=OR1_dmqAoGY
nesse cantar pensava em mim , em minha lembranças melancólicas , minha horas de solidão , e meus momentos de reflexão sobre " o que sou ?, o que devo fazer ? para onde vou?" , voltei para rua e dei boa-noite para um menino sentado em monumento , a uma pessoa vestida urso rosa cavando , e a um grupo que não me respondeu de volta . fui a um guarda e perguntei que horas eram? ele disse: 5 pras 7 . agradeci. voltei a pasteur e falei a frase que enterrei na areia , era uma mulher ,disse a ela : um dia eu irei encontrar o amor da minha vida ela riu , e saiu meio sem graça , falei para mas duas pessoas elas riram e continuaram seu caminho e eu continuei o meu . pensando que aquele momento na praia realmente mexeu comigo , por que tinha lembrado de momentos tão intimos e melancólicos que talvez não fosse , bom ter lembrado , continuei minha vida.
ROSA DOS VENTOS VIOLENTOS ( RE-ENACTMENT "PANCAKE" DE MARCIA X )


Durante dias estava pensando em como realizar , realizar minha performance individual , e um dia resolvi dar uma visitada no blog , vi alguns videos , do blog , li alguns textos , mas o que mais me chamou atenção foi uma performance desenvolvida pela minha colega larissa landim fiquei maravilhado pela imagem que se criou . fiquei com isso na cabeça. mas não sabia o que faria , pensei no workshop que realizei com a companhia são jorge de variedades que me apresentaram um grupo que realiza intervenções urbanas frente 3 de fevereiro : http://www.frente3defevereiro.com.br/
um trabalho que eles realizaram na copa da Alemanha em que colocavam placas de aviso onde tinha neo-nazistas , a princípio minha idéia era colocar placa não de aviso mas placas onde ocorreu-se homícidios no rio de janeiro , justamente apontando a questão da memória , onde não podemos esquecer que atrocidades aconteceram e acontecem a todo o instantes e simplesmente não podemos normalizar esses fatos . mas fiquei pensando se uma intervenção é uma performance . e se estaria de acordo com o que foi conversado nas aulas de atat. então , depois da aula tudo veio a tona é compreendi o que deveria fazer , como se pode ver no vídeo acima ( abaixo do subtítulo " rosa dos ventos violentos" ) a idéia inicial era fazer 8 tiras de jornal e coloca-las em 8 direções apontando para centro " uma rosa dos ventos" no meio uma bacia e 4 barris de "sangue" sendo eles colocados em posições norte, sul, leste, oeste...o performer se colocaria no meio , no caso dentro da bacia e jogaria o "sangue" em cima de si. para mim o símbolo desse ato , é como todas as informações de violência chegam até o individuo , violência na politica , no esporte, na cultura, no social, e como elas nos influenciam. creio que de uns tempos para cá nos tornamos mais violentos , não que nunca tenha existidos atos monstruosos , mas nos encontramos no tempo em que se está pensado novos valores , novas morais , mas é preciso ter cuidado nos pensamentos , e lidar com as informações que nos chegam cada vez mais rápidas. e são informações cada vez mais banhadas de sangue , e sangue e mais sangue . e para mim as páginas de jornais tem toda uma importancia , porque fiz questão que fossem sobre violencia, de todas as suas formas possiveis , não aparece mas demarquei com caneta as infomações de violencia que mais chegam de cada região do nosso pais . foi muito importante para mim essa performance , porque sempre me via com uma certa impotencia de falar de uma que infelizmente se tornou tão ampla nossa vida. e acho que consegui falar , não for expor os problemas que foi ter realizado essa performance , pois é desnecessário , mas gostaria que ela tivesse sido mais ampla , mais abrangente. de alguma forma trabalhar com a imagem deixa pessoas com uma lembrança daquilo que viram , fazer um impacto . por isso deixe por um dia, a performance como se fosse uma intervenção . guardada na memória.

sábado, 18 de junho de 2011

Amor Próprio à deriva


Quando comecei a pensar na performance que eu faria, me senti em um beco sem saída. Primeiro tive uma idéia que todos da turma haviam gostado, mas que eu mesma não me sentiria à vontade fazendo, além de que não teria nada a ver comigo, e com qualquer questão que eu quisesse mesmo aprofundar.
Pensei muito até que encontrei uma tirinha na internet que me chamou a atenção:
Era uma questão que parecia estar rondando a minha vida naquele momento. Nos dias de hoje é tão raro uma pessoa amar e respeitar a si mesma em primeiro lugar. E se eu pudesse presentear algumas poucas com amor próprio?
Decidi que faria algumas caixinhas de presente com apenas um papel dentro escrito “Amor Próprio”. Andaria por algum lugar qualquer e as daria de presente para quem me inspirasse ser presenteado.
Além disso, pensei que a melhor forma de encontrar essas pessoas, seria através da deriva. Um meio de andar sem rumo e chegar a lugares inusitados que me inspirassem sensações diversas, já que estaria fortemente concentrada nessas.
Um mapa de ação feito pela Lis me inspirou ainda mais a derivar, procurando por lugares/pessoas que transbordassem amor e outros que necessitassem de.
Fiz uma caixa para guardar os presentes e fiz onze caixinhas, aonde coloquei os papeis.
Me muni de coragem e escolhi realizar a performance após ajudar na da Bel. Pedi que ela filmasse e comecei meu percurso desde o Pinel.
Caminhei sem rumo, escolhendo caminhos aleatórios que eu tivesse vontade de seguir. O mais difícil foi entregar o primeiro presente, devo ter demorado uns quinze minutos para encontrar a primeira pessoa que eu tivesse vontade de presentear.
Enquanto caminhava, ia pensando nas questões da minha performance, se eu seria compreendida se eu seria capaz de ajudar, mas, após dar o primeiro presente, resolvi que não deveria me importar com aquilo, que nem queria ver as reações das pessoas quando abrissem a caixinha. Percebi que eu deveria ir deixando aquilo para trás, como uma semente que eu plantasse sem nunca poder voltar para ver os resultados.
Fui sendo guiada apenas pelas emoções que o caminho me trazia, junto com as reações diversas que as pessoas me passavam. Ri, me constrangi, diverti e me senti aliviada. Conforme ia distribuindo meus presentes, sentia como se um peso fosse retirado das minhas costas, me deixando mais leve para caminhar sem medo de prosseguir.
Senti que, ao dar amor próprio, comecei também a pegar o sentimento um pouco mais para mim, como se, ao presentear alguém, eu também fosse presenteada. Ação e reação. Simples, fácil.


sexta-feira, 17 de junho de 2011

Terra

pic.tó.ri.co, adj., referente à pintura
Terra foi criada a partir da performance Alviceleste, de Marcia X. Na obra original, a artista tinha as cavalariças da Escola de Artes Visuais do Parque Lage como espaço performático. O local estava completamente pintado de branco e Marcia – que usava um vestido igualmente branco - dispunha de copos com água e tinta azul. Assim, a performer preenchia o espaço, manchando-o aleatoriamente de azul, quase como se fosse possível pintar tudo ao redor, isto é, como se as coisas fossem pictóricas, como se as cavalariças fossem telas tridimensionais. Não à toa Alviceleste é realizada dentro de uma escola de artes visuais. Em Terra, a ideia ganha ares mais abrangentes: sem fugir do local – o Parque Lage – a performance deixa as cavalariças e vai ao jardim. Ali, uso a terra como tinta (na pintura arcaica, a terra era de fato a matéria-prima para a produção de tinta). Como suporte para minha pintura, utilizo a própria estrutura exterior do parque: o cimento dos paralelepípedos do jardim. Misturando água e terra, exponho uma tensão entre natureza x homem, compondo tinta com o primitivo e a tela com o elemento mais próximo da ideia de cidade, ou seja, o cimento. Desta forma, penso ser possível estabelecer um paralelo entre arte e vida, pintura e construção, como se fosse possível, enfim, pintar o mundo com suas próprias matérias-primas.
Manoela Pereira

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Made in ?

‎"Não somos infiéis, somos móveis."
Pierre Lévy in "Conexão Planetária"
Sentada numa escada, por onde circulavam pessoas, sentei no intuito de costurar Made in Brasil em meu pé, revisitando a performance "Marca Registrada" de Leticia Parente entre ruínas. Durante o re-enactment, entretanto, cheguei num instante de dúvida. O nacionalismo ferrenho de outrora cedeu lugar a vida globalizada, o cotidiano nos bombardeia de informações de diferentes cantos do mundo e nossa linguagem torna-se cada vez mais hibrida. Somos, portanto, feitos dessa miscelânea de influencias. TV, internet, wifi, celular, são nossos veículos de informação e de aprendizado. Vivemos num brasil colagem de múltiplas culturas, sempre online e em constante mutação. Fica a pergunta- nasci nesta terra, mas quão brasileira sou? O que é ser brasileira? Assim a agulha que durante séculos esteve em mãos femininas tecendo as teias do tempo, hoje tece a dúvida em meu pés. Somos produtos de uma infinidade de redes, de conexões e navegações virtuais, que parece conduzir a impossibilidade de afirmar-se um produto 100% nacional.Pela pele transpiramos, experimentamos as sensações e tocamos o mundo. É a partir da pele que vivenciamos as incertezas de nosso tempo e caminhamos neste solo misto, como criaturas cambiantes que somos. Na incerteza de cada dia, vivenciamos novos territórios e desbravamos universos. 

Poema andante - re-enactment de Walking Poem Rio











Fiz o re-enactment de Walking Poem Rio, realizado pelo grupo dinamarquês Hello!Earth. O grupo é formado por Vera Maeder e Jacob Langaa Sennek, com colaboradores em diversas partes do mundo. Este questiona a tomada de consciência e a exploração do mito da realidade através de uma abordagem transdisciplinar, aprofundando conceitos de diversas áreas de conhecimento e reinventando as relações dos envolvidos entre eles, consigo mesmos e com o mundo. A performance escolhida para ser refeita foi realizada no centro da cidade do Rio de Janeiro em 2008, resultado de um workshop dado pelo grupo no Festival Panorama de Dança desse ano, era a segunda vez que vinham a convite deste a cidade. Participei como “espectadora” e meu olhar sobre os lugares passados durante a performance mudou, o tempo vivido era outro, a vida cotidiana havia parado e eu estava em outra realidade, quase um sonho, onde eu reconhecia os lugares, mas as relações eram outras. Desde então surgiu a vontade de proporcionar algo parecido as pessoas, e como a ementa de A.T.A.T este período girava entorno de mobilidade, surgiu então o esperado momento de trabalhar com a performance em questão.
Na performance original o local escolhido foi a Praça Tiradentes e seu entorno, lugar no qual tenho uma convivência muito intensa, mas desconhecia alguns trechos. Escolhi então fazer minha versão na Urca, pois o “publico alvo” era os alunos na Unirio, e esse é um lugar do qual todos temos uma forte convivência, quase que diária, com parte do Bairro, a Av. Pasteur e a Praia Vermelha, mas desconhecemos muitas outras. Me interessava o conhecimento e/ou reconhecimento desse lugar através do afeto, experimentar se deixar afetar por esse lugar. Nesse sentido essa performance era também uma grande meditação andando, pois o principal objetivo era fazer com que as pessoas esquecessem um pouco a correria do seu dia-a-dia e caminhassem presentes, do lugar por onde passavam e consigo mesmos, reparar o quão bonito é o lugar por onde passamos na maioria das vezes apressados, respirar e ver o que está a nosso redor.
Em Walking Poem Rio existiam dez performers espalhados pelo caminho, indicando, dando pistas, acionando mecanismos que faziam com que a pessoa seguisse para a próxima “parada”. Em Poema andante só havia eu e meu namorado, Eduardo Bastos, o que dificultou, pois tínhamos que escolher momentos chaves para entrarmos em ação. Pensando a definição dada pela dupla sobre o que faziam nesta performance, o invisible reality show, encontrei semelhanças gigantescas com os mapas situacionistas, experimentados em “sala de aula”. No blog brasileiro do Hello!Earth (http://www.helloearthbrazil.blogspot.com//) há a seguinte definição: é um conceito para desenvolver performances especificas para determinados lugares, em que um circuito é desenhado na cidade pesquisada para que o público, individualmente, passe por uma experiência perceptiva, através da criação de situações e estímulos que alterem sua percepção daquele determinado local. Um trajeto único, que dialogue com a vizinhança em que estão estabelecidos e que busca questionar o que e é realidade e como esta é criada. Com isso, a própria experiência da audiência torna-se a performance, pois seu olhar não é dirigido a nenhuma conclusão especifica. Optei então por criar um mapa situacionista até o momento em que fosse necessário a presença humana para a sequencia da performance. O mapa atentava para três espaços: a rosa dos ventos, a cabine da policia e sua visão para o Cristo Redentor, e a igreja. E nesses eram estimulados o pensamento a respeito, respectivamente, ao rumo de sua vida, a sensação de segurança, e sua relação com as coisas de Deus e do homem.











Ao sair da igreja se dava a transição para a segunda parte da performance, já sem o mapa – é interessante observar que a percepção da divisão da performance em dois “atos” só se deu quando esta já havia sido dada por encerrada, e que a performance original também havia uma separação em dois atos, com e sem a condução de um I-pod. O participante não sabia mais o que aconteceria, pois o mapa só avisava que seria chamado por alguém para a próxima parada. Dava-se então o encontro comigo e começava uma experiência mais sensorial com o espaço.
Nós andávamos de mãos dadas até o Deck, lá entregava um copo d’agua ao participante, que a bebia olhando pro mar.Depois pedia que fechasse os olhos e envolto pelo som da praia era levado por Eduardo calmamente até uma canga posta na areia da praia, ele o sentava e o deitava naquele lugar.
































Ao abrir os olhos o participante via em sua mão um saquinho contendo uma bala e um recado:

Sugiro que a vida siga de forma leve e doce,
Experimente começar agora: adoce seu caminho de volta.

O espaço foi estudado milimetricamente para que se chegasse a esse resultado, no qual não só a estrutura da performance inicial estivesse presente, mas algumas ações que encaro como importantes fossem reproduzidas, na medida do possível, nessa versão.
Através de e-mails, telefonemas e mensagens de texto foram agendados oito pessoas para realizar a performance no período entre 14hs e 18hs da segunda-feira, dia 6 de junho.

Embora venha me dedicando ao estudo da performance há algum tempo, me vi na expectativa de querer que a coisa não saísse do meu controle, que os participantes começassem na hora exata, passassem por todas as etapas e finalizassem a performance no local especificado; caso contrario a performance não havia seria realizada com êxito. Uma visão muito teatral de que é preciso ter começo, meio e fim e ser exato e alcançar um objetivo. Pensando deste modo quebrei a cara, algumas pessoas não chegaram nem a pegar o mapa na xerox da Unirio, por terem sido comedidos de problemas cotidianos, outros me deram bolo, a quem se perdeu no caminho, quem terminou só a primeira parte e apenas uma que chegou ao final. Com esta ultima deu tudo “certo” e foi uma experiência incrível, mas isso não quer dizer que com as outras deu errado. Conversei com as pessoas que não chegaram até o final e elas demonstraram prazer na experiência realizada. Elas doaram parte do seu tempo, tão valioso nos dias atuais, e principalmente no final do semestre, para experimentarem o que foi proposto, não ter chegado ao final é o de menos. Nas experiências coletivas realizadas pela turma, percebemos como a sensação de falta de tempo é um grande problema na contemporaneidade, e meu re-enactment lidou diretamente com o tempo, seja no encontro de pessoas que pudessem doar quatro horas do seu dia pra me ajudar na produção da performance; a doação de 30 a 45 minutos das pessoas para participar, parando seus afazeres pra isso; o tempo frenético das pessoas que iam participar, mas que não conseguiram parar; o tempo de esperar as pessoas chegarem à igreja; o tempo de vivencia de cada um, que não necessariamente foi o tempo de realização da performance...
A performance se deu também para os moradores, pessoas que ia pegar o ônibus, turistas, vendedores que me viam me movimentando pela praia, levando alguém para a areia e voltando, ou que viram pessoas circulando com papeis e envelopes pela murada da Urca e entrando na igreja.
Ao final percebi que não era necessário chegar ate o final para participar efetivamente da performance, todos que de alguma forma entraram em contato com o re-enactment participaram dele. A performance não é algo fechado, controlado, como na maioria das vezes é o teatro; por mais que eu tenha estudado o roteiro e planejado para que tudo acontecesse perfeitamente, a performance não pode ser ensaiada, ela acontece no presente, e quando começa não pode ser controlada, o rumo e a reverberação que ela toma já não está mais sobre meu alcance.