..."Arte se desenvolve em função de noções interativas, conviviais e ralacionais."
(BOURRIAUD. 2009, p.11)
A Performance, como ato artístico independente, surgiu na década de 60 por causa de circunstâncias históricas muito específicas e buscava uma forma de 'transgressão das normas sociais' e artísticas, trazendo assim um conceito de experiencia do real à arte. Algo como uma arte conceitual onde a fronteira entre performance e teatro se estabelece a medida que a imediatalidade do tempo, espaço e corpo do performer, realizador da arte performática, se opõe ao conceito até então estabelecido de teatro como espaço para a representação, com duração determinada e que separa espacialmente o local da ação do local de onde se recebe a ação. palco e platéia.
Essas transgressões da performance se realizam ao expor esse novo fazer artístico que quebra a barreira da Obra de Arte, possui objetivos a partir de reflexões diretas sobre o mundo e incita o espectador a sair da posição de contemplador da arte e se tornar participador dela.
A partir desses pressupostos sobre a performance afirmo: Isto é um registro. Não é um desdobramento ou reprodução da arte. É apenas um documento que relata, analisa e relaciona as performances Cut Piece realizadas por Yoko Ono em 1964 e 2003 e por mim, Rany Carneiro, em 2010.
Em 1964 a performer Yoko Ono realizou pela primeira vez a performance Cut Piece no Japão. Sabe-se a partir de registros que a ação performática estava contextualizada com o momento de guerra e tensão mundial perante a Guerra Fria e tinha como objetivo a relação artista/público participador. Yoko expunha assim a passividade do performer perante as ações do participador, que utilizava a tesoura em sua roupa de forma que desejasse, comparando simbolicamente a ação de cortar com a violência em todo o mundo.
Fabio Cypriano afirma em sua texto que 'cada performance possuía um objetivo e quando ele era alcançado, era preciso conseguir um novo.' Foi assim que se realizou em 2003, em Paris, pela própria Yoko Ono devido ao contexto de tensão ao terrorismo pós 11 de setembro, um re-enactment de Cut Piece onde houveram desdobramentos e os próprios objetivos da performance se modificaram.
(BOURRIAUD. 2009, p.11)
A Performance, como ato artístico independente, surgiu na década de 60 por causa de circunstâncias históricas muito específicas e buscava uma forma de 'transgressão das normas sociais' e artísticas, trazendo assim um conceito de experiencia do real à arte. Algo como uma arte conceitual onde a fronteira entre performance e teatro se estabelece a medida que a imediatalidade do tempo, espaço e corpo do performer, realizador da arte performática, se opõe ao conceito até então estabelecido de teatro como espaço para a representação, com duração determinada e que separa espacialmente o local da ação do local de onde se recebe a ação. palco e platéia.
Essas transgressões da performance se realizam ao expor esse novo fazer artístico que quebra a barreira da Obra de Arte, possui objetivos a partir de reflexões diretas sobre o mundo e incita o espectador a sair da posição de contemplador da arte e se tornar participador dela.
A partir desses pressupostos sobre a performance afirmo: Isto é um registro. Não é um desdobramento ou reprodução da arte. É apenas um documento que relata, analisa e relaciona as performances Cut Piece realizadas por Yoko Ono em 1964 e 2003 e por mim, Rany Carneiro, em 2010.
Em 1964 a performer Yoko Ono realizou pela primeira vez a performance Cut Piece no Japão. Sabe-se a partir de registros que a ação performática estava contextualizada com o momento de guerra e tensão mundial perante a Guerra Fria e tinha como objetivo a relação artista/público participador. Yoko expunha assim a passividade do performer perante as ações do participador, que utilizava a tesoura em sua roupa de forma que desejasse, comparando simbolicamente a ação de cortar com a violência em todo o mundo.
Fabio Cypriano afirma em sua texto que 'cada performance possuía um objetivo e quando ele era alcançado, era preciso conseguir um novo.' Foi assim que se realizou em 2003, em Paris, pela própria Yoko Ono devido ao contexto de tensão ao terrorismo pós 11 de setembro, um re-enactment de Cut Piece onde houveram desdobramentos e os próprios objetivos da performance se modificaram.
A realização do re-enactment, nesse caso pela própria performer, possibilita um novo olhar sobre a performance já ocorrida possibilitando enxergar novos questionamentos e retira qualquer status de intocável que a arte ainda possa ter. Elevando para uma esfera onde o fazer artístico afeta e se modifica o tempo todo pela história e pelas pessoas que a fazem.
Foi então com esses conhecimentos e questionamentos sobre esta performance que decidi realiza-la. E realizar o seu re-enactment.
Junto a mais três performers me instalei, durante uma tarde, num corredor da Uni-Rio, munida de tesouras e um cartaz, onde estava escrito 'Cut Piece-Corte um pedaço'. A tradução, errônea, do nome da performance danda uma conotação de ordem pode ter interferido diretamente no desenrolar da performance, porém a escolha do local foi feita por nos passar uma certa segurança que a instituição possui e para obtermos uma atenção significativa daqueles que ocupavam aquele espaço e passavam diariamente por ali.
Eu tinha como objetivo nessa primeira performance manter o questionamento relacional exposto por Yoko em 64- a passividade do performer diante do participador e sua ação- a partir das minhas reflexões sobre o contexto histórico e relacional da contemporaneidade e a visão de limite para o performer e para o participador. Porém conforme a performance se seguia passei a observar a ação do participador e a perceber que a relação que se estabelecia comigo e com a tesoura era para cada participador, particular. Era como se naquele momento em que o participador tinha a tesoura na mão, ele entrava em coneção apenas com ele mesmo e se enxia de um sentimento de poder que não poderia ser questionado nem por outros e nem por ele mesmo.
Em sua maior parte a performance foi carregada de terror psicológico e agressividade por parte do participador diante da minha total total passividade e a questão artística da performance s perdeu em meio a apostas sobre o limite de exposição para cada performer. Porém, essas relações não são mais do que consideradas 'normóticas'- termo que aqui emprego me referindo a a reações esperadas por parte da grande maioria da pessas- perante um ato artístico. A banalização dos objetivos e a agressividade do participador/receptor são percebidas no mundo como um todo, e o ocorrido na nossa performance foi apenas um reflexo das relações e ações do ser humano.
A partir então do que ressoou dessa primeira performance e em cima de uma reflexão das reações humanas, realizei o meu re-enactment da minha performance, e assim como Yoko Ono, com estrutura e objetivos diferenciados.
Dessa vez realizamos o Cut Piece, apenas eu e o Claudio, sentados um de frente para o outro em uma livraria durante o lançamento de um livro. Escolhemso um espaço que nao interferisse diretamente no caminho daqueles que estavam no local e não usamos algo que nomeasseou conduzisse a performance como a placa com a tradução. O tempo então, assim como na primeira vez, era determinado pelo decorrer da performance. Porém em oposição a primeira performance, as relações que se estabeleceram foram mais espaçadas e pontuadas.
Como objetivo eu buscava participadores com ações 'anormóticas' perante a minha passividade como performer. Um participador que não se relaciona-se com a tesoura e comigo de forma esperada e com gestos agressivos pois possui um olhar diferenciado sobre a performance.
Não posso negar o fato de diversas pessoas terem agido de forma esperada,'normótica', cortando aleatoriamente pedaços da roupa estabelecendo relações de poder comigo e com ação,assim como na primeira vez, porém foram as ações em oposições a estas que se tornaram relevantes para a finalização e obtenção do objetivo da performance. Algumas pessoas usavam do tecido e da tesoura para fazer mascaras, reorganizam nossos corpos para compor uma obra de arte. Outras usavam a tesoura para massagear e soltar as amarras que nos deixavam em situações desconfortáveis. Era esse tipo de ação que eu buscava como objetivo. Uma ação em que o participador não fosse meramente aleatória e de cunho pessoal, mas que se importasse com a relação e com o performer.
Nesse momento em que vi -materialmente- ações anormóticas serem realizadas, agradeci e me levantei. A minha performance aquele dia estava completa.
Relacionando então as quatro performances,as duas vezes da Yoko Ono e as duas vezes minhas, percebo que o ato performatico se estabeleceu como uma experiência bilateral onde performer-como pessoa e não um personagem- e público, como agente participador da ação se relacionam e se afetam. É a Arte que se da na relação. É de cunho reflexivo também que a cada vez em que Cut Piece foi realizada possuía um objetivo específico diferenciado, conforme o contexto inserido e os questionamento do performer no momento, expondo assim um caráter universal para a realização da performance. Caráter esse que não creio ser específica do Cut Piece, mas abrangente a todas as performance já realizadas pois o que importa é a reflexão que cada performer vai fazer para tratar do diversos assuntos da sua contemporaneidade. E se é possível questionar relações atuais partir de performances realizadas inicialmente na década de 70, porque não?! Só nos mostra que as transgressões que aqueles artistas buscavam para recriar o olhar sobre o fazer Arte ainda são extremamente necessárias.
Foi então com esses conhecimentos e questionamentos sobre esta performance que decidi realiza-la. E realizar o seu re-enactment.
Junto a mais três performers me instalei, durante uma tarde, num corredor da Uni-Rio, munida de tesouras e um cartaz, onde estava escrito 'Cut Piece-Corte um pedaço'. A tradução, errônea, do nome da performance danda uma conotação de ordem pode ter interferido diretamente no desenrolar da performance, porém a escolha do local foi feita por nos passar uma certa segurança que a instituição possui e para obtermos uma atenção significativa daqueles que ocupavam aquele espaço e passavam diariamente por ali.
Eu tinha como objetivo nessa primeira performance manter o questionamento relacional exposto por Yoko em 64- a passividade do performer diante do participador e sua ação- a partir das minhas reflexões sobre o contexto histórico e relacional da contemporaneidade e a visão de limite para o performer e para o participador. Porém conforme a performance se seguia passei a observar a ação do participador e a perceber que a relação que se estabelecia comigo e com a tesoura era para cada participador, particular. Era como se naquele momento em que o participador tinha a tesoura na mão, ele entrava em coneção apenas com ele mesmo e se enxia de um sentimento de poder que não poderia ser questionado nem por outros e nem por ele mesmo.
Em sua maior parte a performance foi carregada de terror psicológico e agressividade por parte do participador diante da minha total total passividade e a questão artística da performance s perdeu em meio a apostas sobre o limite de exposição para cada performer. Porém, essas relações não são mais do que consideradas 'normóticas'- termo que aqui emprego me referindo a a reações esperadas por parte da grande maioria da pessas- perante um ato artístico. A banalização dos objetivos e a agressividade do participador/receptor são percebidas no mundo como um todo, e o ocorrido na nossa performance foi apenas um reflexo das relações e ações do ser humano.
A partir então do que ressoou dessa primeira performance e em cima de uma reflexão das reações humanas, realizei o meu re-enactment da minha performance, e assim como Yoko Ono, com estrutura e objetivos diferenciados.
Dessa vez realizamos o Cut Piece, apenas eu e o Claudio, sentados um de frente para o outro em uma livraria durante o lançamento de um livro. Escolhemso um espaço que nao interferisse diretamente no caminho daqueles que estavam no local e não usamos algo que nomeasseou conduzisse a performance como a placa com a tradução. O tempo então, assim como na primeira vez, era determinado pelo decorrer da performance. Porém em oposição a primeira performance, as relações que se estabeleceram foram mais espaçadas e pontuadas.
Como objetivo eu buscava participadores com ações 'anormóticas' perante a minha passividade como performer. Um participador que não se relaciona-se com a tesoura e comigo de forma esperada e com gestos agressivos pois possui um olhar diferenciado sobre a performance.
Não posso negar o fato de diversas pessoas terem agido de forma esperada,'normótica', cortando aleatoriamente pedaços da roupa estabelecendo relações de poder comigo e com ação,assim como na primeira vez, porém foram as ações em oposições a estas que se tornaram relevantes para a finalização e obtenção do objetivo da performance. Algumas pessoas usavam do tecido e da tesoura para fazer mascaras, reorganizam nossos corpos para compor uma obra de arte. Outras usavam a tesoura para massagear e soltar as amarras que nos deixavam em situações desconfortáveis. Era esse tipo de ação que eu buscava como objetivo. Uma ação em que o participador não fosse meramente aleatória e de cunho pessoal, mas que se importasse com a relação e com o performer.
Nesse momento em que vi -materialmente- ações anormóticas serem realizadas, agradeci e me levantei. A minha performance aquele dia estava completa.
Relacionando então as quatro performances,as duas vezes da Yoko Ono e as duas vezes minhas, percebo que o ato performatico se estabeleceu como uma experiência bilateral onde performer-como pessoa e não um personagem- e público, como agente participador da ação se relacionam e se afetam. É a Arte que se da na relação. É de cunho reflexivo também que a cada vez em que Cut Piece foi realizada possuía um objetivo específico diferenciado, conforme o contexto inserido e os questionamento do performer no momento, expondo assim um caráter universal para a realização da performance. Caráter esse que não creio ser específica do Cut Piece, mas abrangente a todas as performance já realizadas pois o que importa é a reflexão que cada performer vai fazer para tratar do diversos assuntos da sua contemporaneidade. E se é possível questionar relações atuais partir de performances realizadas inicialmente na década de 70, porque não?! Só nos mostra que as transgressões que aqueles artistas buscavam para recriar o olhar sobre o fazer Arte ainda são extremamente necessárias.
Gente
ResponderExcluiralgo aconteceu no meu texto.
A concepção dele é para que tenha palavras 'apagadas'..
nao sei o que aconteceu que agora, 2dias depois, estao TODAS aparecendo...
q pena!
Espero que alguem tenha conseguido ver!
beijos!
Rany, li agora o texto, com as palavras aparecendo. Gostei do conceito das palavras apagadas, vamos colocar de volta... Excelente reflexao sobre o contexto inicial de Yoko, o próprio re-enactment, realizada por ela mesmo e as duas experiências suas em espaços diferentes. Repete-se a forma, embora contexto, texto, espaços se modifiquem radicalmente de uma experiência para a outra. Existe, e o que é o permamente dentro da impermanência? That's the question...
ResponderExcluirSomente falta vc colocar como referencia
ResponderExcluir(BOURRIAUD: 2009, aqui entra o numero da pagina)
nao precisa citar o livro porque ja esta no inicio do blog! beijos.