Domingo dia 27 de julho de 2010, Central do Brasil- RJ por volta de 10 da manha, entro no ônibus com destino Central/Itaguaí carregando a parte de economia e política do jornal “O GLOBO”. Após passar pelo trocado me dirijo ao centro do ônibus e começo a degustar o jornal. Parte a parte este pedaço do jornal ia “desaparecendo”. Mas o que me levou a isso!?
Inicio do semestre letivo de 2010. A disciplina ATAT ministrada por Tania Alice trata sobre a não necessidade da definição do seu principal objeto de estudo: a performance. Partindo de alguns textos teóricos e de reflexões e experiências compartilhadas em sala de aula a mesma se torna um farto debates sobre temas como a pertinência da performance hoje, o re-enactment, as questões relativas ao suporte e ao registro, a ética do artista da performance e as questões produzidas e buscadas por essa arte fronteiriça e hibrida em relação ao interacionismo social. E tendo como resultado final a realização de uma re-enactment de alguma performance digamos assim “histórica”. Assim a aula a pretendia incorporar a criação e a vivência a produção reflexiva e teórica.
Escolher uma performance não é uma tarefa fácil. Primeiro Devido a uma percepção minha de que muitas das vezes a performance é recebida e agrupada próxima a pornochanchada e a alienação. Outra “categorização” que eu também não queria cair seria o da categorização do evento performático que é rígido e não é capaz de de dialogar e nem interferi na interação, integração e resignificação das relações humanas.
O que eu buscava nesta arte era alguma forma de como diz Nicolas Bourriaud em seu livro sobre estética relacional “A possibilidade de uma arte relacional (uma arte que toma como horizonte teórico a esfera das interações humanas e seu contexto social mais do que a afirmação de um espaço simbólico autônomo e privado)” (BOURRIAUD: 2009:19). Desenvolvidas a partir das noções interativas, conviviais e relacionais. De certa forma poderia pensar que na representação da performance seria uma relação ambígua seria apresentar algo novo a partir de uma noção de ausência.
Com base nisto comecei a escolher qual seria o meu exercício prático o primeiro sugerido a professora foi a de um coletivo de artistas de Miguel Pereira que se baseavam livremente nas intervenções urbanas de cobrir monumentos e de andar com cartazes com perguntas sobre se isso seria arte. Eles fundiram as duas ultimas em uma única: adesivos com a pergunta (Isso é arte?), distribuídas a pessoas e artistas para rediscutir, repensar e incluir o sue subjetivo dentro do aparelho urbano. Tal proposta foi rejeitada por mim mesmo, dada a impossibilidade de dialogar (devido) a ausência dos registros anteriores e de ser também próxima temporalmente.
A segunda tentativa se deu através da escolha dos cartões-postais, especificamente sobre o que criava a instrução de um mapa e pedia que ao fim do caminho se entregasse uma rosa. A minha resignificação passou a ser a entrega de um mapa de direções curtas e a materialização da rosa por poesias no interior retiradas de letras de Noel Rosa (tenho também a crença que diversas interferências pequenas e simples são mais interessantes do que uma única muito potente - dado que normalmente a população rejeita as manifestações extremas e estas acabam por se tornar uma auto glorificação do artista - este gosto pode ser explicado pelo ditados “água mole e pedra dura tanto bate até que fura” e “Não se tropeça em pedregulhos”). Infelizmente esta proposta não apresentou segundo os critérios de avaliação uma potencia e uma consistência dentro da proposta da disciplina do re-enactment.
A terceira tentativa (a que foi descrita logo no inicio deste texto) foi baseada na experiência de Paulo Herkenhoff em 1975 em que o artista defronte a câmera, em tempo-real, mastiga e engole notícias de jornal sobre a censura no Brasil em plena época da ditadura (fonte site Itaú Cultural). Identifiquei-me com essa performance dado a minha residência antes do Rio ter sido em Itaguaí que também sofre com problemas relacionados a imprensa. Estes problemas têm duas origens principais. Primeira a criação de uma siderurgia na zona limite de Itaguaí que destruiu mangues e outros sistemas ambientais presentes, contratou milícia para expulsar pescadores entre outras coisas sempre abafadas com notas na imprensa e um ferrenho sistema de advogados. A segunda se refere a prefeitura da cidade que patrocina TODOS os jornais locais. Então todas as noticias são filtradas pelo departamento de imprensa da prefeitura (os índices altos de violência, os índices baixos de saúde e educação a impugnação pelo TRE) .De certa forma vivemos nesta região em uma espécie de ditadura branca da imprensa derivada de motivos econômicos e políticos. Assim ao realizar a viagem da central vindo a Itaguaí, realizei a atividade de um jornal com suas noticias sumirem materializando o que a “ditadura” regional faz ao “filtrar” as noticias.
Realizada a atividade com sucesso sobre o olhar de alguns curiosos só me restou uma dúvida: será que a escolha do Noel Rosa não estava sujeito a um maior jogo e será que não tinha mais a ver com o conceito “insere o espectador na obra-proposição, possibilitando a criação de uma estrutura relacional ou comunicacional” (p.9 MELIM, Regina in Performance nas artes visuais) com uma maior participação do público como elemento de interferência e determinador dos acontecimentos traduzindo assim maior fator de subjetivação dentro do aparelho urbana e das relações humanas.
E ainda até que ponto a performance foi além de tocar em mim mesmo e se traduziu em um jogo cujas formas, modalidades e funções evoluem conforme as épocas e contextos sociais.
Trabalho um pouco mais conectado com alguns dos textos estudados... Na verdade, o primeiro trabalho nao foi questionado em funçao de sua potência, mas sim em funçao do fato de nao ser um reenactment, mas uma proposta performática original.. Nao havia referências no texto à uma performance original (no caso, seria a de Yoko Ono) e diálogo em funçao de todos os temas abordados na disciplina: o que é re-enactment? re-enactment é performance? o que se "refaz" no re-enactment? etc. etc. Nesse sentido o trabalho presente está mais pertinente.
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