John Baldessari é um artista conceitual norte-americano nascido em 17 de junho de 1931
“Baldessari permanece fundamentalmente interessado em desmistificar os processos artísticos e utiliza vídeos para gravar suas performances, que funcionam como “experiências de desconstrução”. Esses exercícios ilustrativos tem como alvo suposições sobre arte e artistas, com foco na percepção, linguagem e interpretação de imagens artísticas. Estas demonstrações fornecem uma introdução as principais preocupações do trabalho de Baldessari, e a lingüística e filosofia estética relacionados.”¹
No vídeo I AM MAKING ART, um videotape em preto-e-branco datado de 1971 e originalmente com 18 minutos de duração, o artista movimenta diferentes partes do corpo enquanto repete a frase-título a cada movimento realizado. Esses são mecanizados e é impossível não se lembrar do manifesto futurista da Declamação dinâmica e sinóptica de 1914 (nos primórdios da performance) “que formulava regras para as ações corporais baseadas nos movimentos staccato das máquinas. “Gesticulem geometricamente”, aconselhava o manifesto (...)””²
Minha escolha por reconstituir essa performance tem a ver com o meu questionamento pessoal sobre performance e sua validade e principalmente sobre como cada um apreende as noções de performance e arte. Também envolve o fato de questionar até que ponto a produção de presença e uma intensidade de comunicção citada por Lehman e que só poderia se dar através do contato “face a face”. A performance também trabalha o que Lehmann chama de atuação simples - ou simple acting. Através da repetição de uma comunicação clara e não-ficcional. Durante todo o vídeo Baldessari repete a frase I am making art que simplesmente comunica o que está acontecendo sem produzir nenhum tipo de fábula ou evocar qualquer tipo de reflexão diretamente.
A princípio a idéia era fazer o re-enactment de duas formas paralelas. A primeira seria produzir uma compilação de re-enactments (pois ao assistir a um tracho no You Tube me deparei com o fato de haver bastante re-enactments dessa performance) e reproduzir numa televisão que ficaria em alguma área de circulação do CLA, com espaço para que as pessoas pudessem deixar seus comentários sobre o vídeo. Na verdade meu maior interesse sempre foi esse retorno das pessoas.
“A tarefa do espectador deixa de ser a reconstrução mental, a recriação e a paciente reprodução da imagem fixada; ele deve agora mobilizar sua própria capacidade de reação e vivência a fim de realizar a participação no processo que lhe é oferecida” (Lehman, 2007:224)
Infelizmente por problemas técnicos (parece que a tecnologia se volta contra você quando o prazo está apertado) não consegui gravar o dvd até hoje e essa opção de colocar o vídeo num espaço de passagem e principalmente num local onde o público é de estudiosos de teatro – o que já pressupõe uma reação a esse tipo de material diferente de qualquer outro espaço - não foi possível de ser realizada. Então tive que partir para a outra fase do trabalho que era a elaboração de um blog (www.euestoufazendoarte.blogspot.com) somente com esse material relacionado ao I AM MAKING ART, que na minha leitura virou EU ESTOU FAZENDO ARTE (?). Divulguei o vídeo aqui pelo blog da turma e tentei espalhar ao máximo de pessoas possível. Em 1 dia recebi 7 comentários. Todos diferentes entre si. Foi nesse momento que eu percebi que o que era importante não era o resultado dos comentários, nem a análise dos mesmos e sim verificar se havia se constituído uma comunicação entre o vídeo e o público - seja ela qual fosse.
Quando eu optei por colocar um ponto de interrogação entre parênteses no final do título do meu trabalho eu tava querendo comunicar a minha própria incerteza sobre o que eu estava fazendo. Aparentemente era simples. Pedi a minha mãe que me filmasse enquanto eu tentava reconstituir o vídeo original. Mas eu não consegui me sentir a vontade naquela situação. Como repetir sucessivamente “Eu estou fazendo arte” quando não se acredita realmente no que se está dizendo? Me soava falso, mas segui porque fazia parte de um questionamento maior. Foi nesse momento que eu percebi que apesar de todas as minhas inquietações e dúvidas sobre o trabalho da performance, naquele momento eu estava naquele lugar. E que ironicamente eu contestava a performance através da própria performance. E pude sentir na pele o risco e a exposição que esse tipo de trabalho traz. Naquele momento eu estava passando pela autotransformação que Lehman cita em seu texto O Teatro pós-dramático. Eu tinha acabado de mudar da posição de crítica para posição de objeto criticado. E naquele momento eu com certeza passava por “um processo real, que impõe emoções e acontece aqui e agora” (Lehman, 2007: 229).
Bibliografias consultadas:
LEHMAN, H.T. O teatro pós-dramático. SP: Cosac&Naify, 2007
²GOLDBERG, Roselee. A arte da performance. SP: Martins Fontes, 2006.
¹ http://www.vdb.org/smackn.acgi$artistdetail?BALDESSARI
http://www.vdb.org/smackn.acgi$tapedetail?IAMMAKINGA
http://www.tate.org.uk/tateetc/issue13/ninetofive.htm
(sites consultados em 13 de junho de 2010)
Experiência interessantissima (bem como a reflexao teórica que a acompanha!), porque partiu de uma questao pessoal, importante e forte para você - o que é o ponto de partida para qualquer experiência de auto-transformaçao. Apesar, graças e com as dúvidas iniciais, você trilhou este percurso que dialoga de forma interessantissima com o trabalho de Baldessari. Excelente trabalho.
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