terça-feira, 15 de novembro de 2011

Relato da performance de Socorro Bezerra


A forma da obra contemporânea vai além de sua forma material: ela é um elemento de ligação, um princípio de aglutinação dinâmica. Uma obra de arte é um ponto sobre uma linha.(BOURRIAUD, 1988, p. 29)


Ainda não estava muito claro o que fazer em Performance, quando imaginava qual performance fazer, sempre achava que a forma era mais parecida com esquete.

Neste semestre o tema escolhido para desenvolver as performances foi Felicidade, isto fez com que ficasse refletindo muito sobre o que é felicidade, e não consigo pensar nesta palavra sem lembrar a propaganda do Pão de Açúcar “O que faz você feliz?”.

Por causa desta associação, imaginei fazer uma performance na 3ª maratona do Pão de Açúcar, que aconteceu no dia 06/11/2011, aproveitaria para unir alguns prazeres: correr, conviver com os amigos (pois esta corrida é de equipe) e fazer uma performance. Entretanto, por motivos pessoais, não estava no Rio de Janeiro na data.

Mas, começarei do início, da primeira performance da minha vida. Foi realizada nos jardins da UNIRIO, no I Seminário Internacional Corpo Cênico: linguagens e pedagogias. E foi muito importante ser uma performance coletiva, ajudou bastante. Enquanto estava sentada no balanço tocando pandeiro tinha um outro pandeiro do lado, para construir um relacionamento com as pessoas que passavam pelo jardim. No princípio foi tenso, depois me pegava bem relaxada, como se não estivesse naquele lugar, como se só existisse o ato de tocar pandeiro e balançar no pandeiro (uma sensação muito boa) e, em alguns momentos, existiu uma necessidade de chamar atenção, de que eu fosse vista. E naquele momento, aliado a leitura de alguns textos, percebi esta forma de fazer arte. Algo que a humanidade fazia: como sentar em uma praça, tocar um instrumento juntos com amigos, a muito tempo atrás, em uma época em que tempo não era dinheiro. Hoje em dia, quando é colocado uma intencionalidade, tornar-se arte.

... além do caráter relacional intrínseco da obra de arte, as figuras de referência da esfera das relações humanas agora se tornaram “formas” integralmente artísticas.” (BOURRIAUD, 1988, p. 40)

Minha segunda performance foi ri na escadaria da Câmera Municipal do Rio de Janeiro, também foi coletiva. Esta performance tinha uma sensação diferente, tinha um “sentimento” político, e foi bom ter chamado atenção das pessoas que passavam na Cinelândia, acho que em algumas teve a interpretação política também. Mas confesso que esta performance me fez cansar fisicamente. Cheguei à conclusão: ri cansa.

Com base na performance de Georgina Starr[1] e por não ter conseguido fazer a performance na 3ª Maratona do Pão de Açúcar, decidi fazer minha performance individual na corrida Venus. Consistiu em: fazer a corrida sozinha, ter consciência do ato de correr sozinha e ter algo diferente das outras participantes. A corrida Venus é uma corrida só para mulheres, a camisa da corrida sempre é algo bem feminino, para ser diferente não usei a camisa da corrida, e sim uma onde tem uma Tartaruga, percebi que as outras pessoas olhavam, inclusive provocando uma interação entre eu e elas com um leve sorriso. Durante a corrida, observei os grupos de amigas, as pessoas que corriam sozinhas com seus “sons” no ouvido e aquelas em que seus companheiros a esperavam na chegada. São corridas diferentes, e eu, por tentar ficar consciente durante toda a corrida, não na corrida, mas no que estava a seu redor, acabei fazendo um tempo maior que o de costume, ou seja, minha performance (desempenho físico) foi baixa. Desta corrida consciente, e de tantas outras que já fiz, produzi um quadro (está no início do trabalho) que se transformou no objeto concreto desta minha performance. Mesmo sabendo que não teria necessidade, que a performance pode ser consumida na hora que acontece, mas senti necessidade.

Uma obra de arte possui uma qualidade que a diferencia dos outros produtos das atividade humanas: essa qualidade é sua (relativa) transparência social. Uma boa obra de arte sempre pretende mais do que sua mera presença no espaço: ela se abre ao diálogo, à discussão, a essa forma de negociação inter-humana que Marcel Duchamp chamava de “o coeficiente de arte” – e que é um processo temporal, que se dá aqui e agora.” (BOURRIAUD, 1988, p. 57)


[1] Geogina Starr, para exposição Restaurant em Paris, em outubro de 1993, descreve sua angústia de “jantar sozinha” e monta um texto para ser distribuído aos clientes solitários do restaurante. (BOURRIAUD, 1988, p. 44)

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