segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Art Must Be Original, Artist Must Be Original (2011)



"The performer repeats the phrase "Art Must Be Original, Artist Must Be Original" while manipulating exposed electric wiring (taped to a stick) with his mouth. As his mouth moves exposed wires create a circuit and a light bulb duck-taped to the performers head is lit. 00:55 the performer turns the studio lights on, exposes the set-up and removes the apparatus from his head."

Bem legal esse trabalho. É de um finlandês chamado Eero Y que me contactou no Vimeo.

Sintese do Livro "Performances nas Artes Visuais - Por Renato Penco



Resenha sobre o Livro “Performance nas Artes Visuais” de Regina Melim

Regina Melim traz em seu livro, uma grande apanhado muito esclarecedor sobre o que vem a ser Performance. Logo na introdução ela diz:

-“O termo PERFORMANCE” é tão genérico quanto as situações nas quais é utilizado”.

Durante o livro ela apresenta as múltiplas possibilidades de uma performance e suas influências. Curioso saber que essa prática de arte, ao contrário do que eu pensava, é praticada, pesquisada e pensada desde a década de 70, que já surgia diferentes formas,  práticas e denominações para o que já se fazia.  Algo já era feito na década 60 onde se agrupava teatro, danças, música e poesia. A meu ver, foi surgindo naturalmente uma necessidade de tornar as artes mais expressivas e o caminho foi reuni-las criando uma nova arte conceitual rompendo, ainda que com influência, as artes de vanguarda. Outro ponto curioso no livro, é que deixava de se pensar a arte, onde o artista cria a obra e o espectador permanece com um olhar passivo. As obras começaram a ter como ideia à participação. A obra dialoga com o espectador, o espaço, o tempo e ate mesmo com o seu criador. Criando assim uma noção de performance, onde a obra dialoga com o espectador. Lendo o livro, e sem essa pretensão, percebi que é difícil definir um conceito único de performance nas artes visuais. No final da introdução, Regina Melin coloca:

“...Quando o assunto é performance, é sempre um número muito variável de concepções, as quais não se postulam como obrigatórias para atingir um consenso”.

Autora cita ainda, grandes nomes dentre autores e artistas que criaram conceitos próprios da arte da performance. Como Roselee Goldberg com seu livro “A arte da performance: do futurismo ao presente” que assinala a trajetória da performance no séc. XX;  o historiador da arte Gregory Battock que 1984, em seu livro “ Arte da Performance – A antologia da crítica” que sinalizava que a arte da performance, provavelmente engajaria a imaginação de um número muito maior de artistas; e a Professora de História de arte Kristine Stiles que cita os protestos sobre a terminologia PERFORMANCE ART, que para os artistas da década de 70 acreditavam que o termo despolitizava seus objetivos, aproximando-os do teatro, muitas vezes associado a ideia de representação e entretenimento. Em comum os autores, falam da trajetória, das perspectivas, manifestações e descrições de artistas e suas obras. Vale salientar que Regina fala de Jackson Pallock e seu trabalho, apresentado no Museu de Arte Moderna de Nova York em 1951, onde se registrou, em vídeo, a pintura de um quadro em seu atelier e que naquele momento a pintura se estabelecia como um evento performático. Esse momento se tornou histórico e influenciou artistas do mundo inteiro. Seguindo um dos conceitos da participação e influência do espectador na obra, surge Lucio Fontana com o conceito espacial em 1947 com seus labirintos monocromáticos que solicitavam a participação do espectador, aumentado ainda mais o conceito de. O livro vai relatando outras manifestações e artistas por todo o mundo, que pesquisam, experimentam, criam outras formas de apresentar e expressar sue conceito e obra. Ainda na década de 50, acontece o Curso de Verão ministrado por John Cage ainda em Nova York, que influência artistas como Allan Kaprow, Jackson MacLow, George Brecht entre outros. Penso que uma das características da arte, é a influencia continua que um artista ou obra exerce sobre outro artista, fazendo que novos conceitos e possibilidade surjam. Nesse curso de John Cage realizado em Nova York sobre composição de música experimental, influenciou esses artistas que trabalharam com seus grupos, podendo surgir um novo conceito durante o trabalho, tornou ainda mais rico o processo. Em Viena, por exemplo, surge um centro de ações performáticas, que para eles tratava-se de uma extensão da pintura como forma de libertar a energia reprimida, mediante atos de purificação e redenção do sofrimento. Outro dado curioso, que em Viena também dois nomes, Valie Export e Peter Weibel colaboraram para a performance em espaços urbanos. Os mesmos desenvolveram uma série de performances na rua em sintonia imediata com muitas ações, onde se pensava naquele período e no mundo todo, as situações instáveis e a alteração do lugar da obra. Penso que, começa a surgir um conceito mais amplo da obra dialogando com espaço e a cidade passa-se tornar o lugar de apresentação dessas obras. E que a cidade, mas especificamente a rua, é palco da vida das pessoas, um lugar de transformação política, transformador e democrático, capaz de trazer a transformação que a sociedade tanto necessita. Percebi com a leitura do livro, que o tema Performance, é vasto mas não tão complexo. A arte e os artistas passam por transformações ao longo da história. Sofrem influências da sociedade em que vivem de outros artistas e obras, da inquietação e questionamentos que passam naquele período e apresentam uma grande necessidade de dialogar com outras pessoas. Penso que as obras em si, sejam materiais ou transformadas em ações/gestos, faz com que o individuo questione e reflita, sobre os seus possíveis significados, cumprindo a meu ver, a função da arte. Esses questionamentos podem vir a partir das performances de Mariana Abramovic, que utiliza dos extremos em suas obras, colocando a própria vida em risco; Vito Acconci que mordeu a si mesmo e esfregou-se contra parede para distender o tórax; Gina Pene, francesa que auto cortou-se nas mãos, pés e rosto e outros tantos exemplos apresentados ao logo do livro. Já no Brasil, a autora usa os termos resistência e sobrevivência para definir a performance, sobretudo nos anos 60 e 70. Cita Flávio de Carvalho, que segundo ela foi um importante antecessor, que denominou suas práticas como três experiências, que desvinculava as categorias artísticas tradicionais. Em 1931, numa procissão de Corpus Christi; em 1956 como um homem de saias andando por São Paulo; em 1957 realiza uma expedição pela Floresta Amazônica que resultaria num filme no qual não aconteceu, porém durante a expedição foram feito contatos com tribos indígenas isoladas. Todos esses feitos foram registrados em livros, e constituem testemunhos de uma ação precursora na trajetória da Performance no Brasil. Ainda durante os anos 60 e 70, houveram várias ações no Brasil, como descrita pelo crítico Mario Pedrosa e definida pelo mesmo de experimentalidade livre, que correspondiam, principalmente a uma profunda reavaliação da presença do objeto na arte. Hélio Oiticica, Lygia Clark e Lygia Pape são três dos artistas brasileiros citados no texto, que passam a repensar a obra, o espectador e o espaço. Passam fazer sua arte utilizando o sensorial, o corpo, o movimento, o objeto e a manipulação do espectador em suas obras. Em 1969 o crítico inglês Guy Brett escreve um livro sobre arte cinética e observa que no Brasil nos anos 60, ocorria um cinetismo extremamente diferenciado dos demais países. Que a linguagem do movimento havia migrado também para experiências com o corpo, sublinhando sua extensão com a participação do espectador. A partir da observação de Guy Brett, e as experiências relatadas no capítulo sobre o Brasil, penso que os artistas brasileiros, ao longo das décadas de 60,70 e 80, também repensaram o objeto na arte, e suas obras apresentam, o que vou chamar de “liberdade expressionista”. Saem das galerias e museus e passam a usar a rua como espaço potencialmente criativo. O espaço urbano é um espaço instigante, pelo seu excesso de informações, possibilidades arquitetônicas e humanas. Artistas como o próprio Hélio Oiticica que tem as ruas do Rio como local para ações participativas; Artur Barrio que utiliza de materiais precários abandonadas pela cidade como madeiras e pedras, e orgânicos como carne e pão para criar sua obra; Antônio Manuel que na exposição realizado no Salão Nacional de Arte Moderna em 1970, ficou NU propondo próprio corpo como obra; Paulo Bruscky que no Recife, nas décadas de 70 e 80, realizou uma séria de ações no espaço urbano. Estes foram artistas que transpassaram as galerias, os quadros e até mesmo, as exposições tradicionais para se manifestar, expor e até mesmo criar sua arte num processo, de certa forma participativa e performática. Como no final da década de 70, onde um agrupamento de artistas de São Paulo ocupou espaços não usuais para realização de procedimentos artísticos, fechando galerias com fitas crepes e cobrindo esculturas e monumentos públicos com sacolas de lixo. Daí, observo que esses artistas cumprem um papel de inverter a percepção habitual da cidade e da arte. Quando esse espaço urbano sofre uma interferência artística, ele passa a ser outro espaço que não mais o espaço óbvio e comum. As pessoas passam a ser parte da obra e observam da perspectiva e da maneira que bem entenderem. O observador tem mais liberdade para analisar a obras, sem horário, ângulo ou conceito pré-definido. Mais curioso ainda, é saber que no final dos anos 90 foram surgindo novos grupos como o Hapax do Rio, Pipoca Rosa em Curitiba, Vaca Amarela em Florianópolis, Empreza em Goiânia e o Entorno em Brasília e todos criando intervenções e ações críticas contra as instituições culturais. Nos desdobramentos, Regina fala dos estudos críticos da década de 90, que reexaminan a noção de performance nas artes visuais com base em múltiplas possibilidades de alargamento das referências contidas no termo. A autora cita Kristine Stiles, teórica no assunto que apresenta algumas definições de performance:

-“... perfomances podem ser desde simples gestos apresentados por um único artista ou eventos complexos através das experiências coletivas...”

Chego à conclusão que performance é uma arte, literalmente livre. Que não precisa se criar algo material e concreto para expressar um pensamento; que pode ser uma ação curta e efêmera e que não resulte em algo concreto; uma ação cheia de objetivos e críticas intrínsecas; que exista uma certa inconformidade e/ou inquietação;  que parte de uma questão interna do artista; que não necessita ou precisa ser registrada; que a obra possa venha ser resultado no próprio corpo; que pode ser feita com qualquer coisa ou lugar; Contudo a performance, ao meu ver, representa cada vez mais o modo de viver da humanidade, desde os anos 70 até os dias de hoje, e passa por questões das mais variadas e complexas. A performance tem uma urgência comunicativa, que não está nos quadros ou galerias. Uma urgência de chegar ao observador, provocando, inquietando e interferindo nesse observador, que não mais é só observador e sim também parte da obra.



domingo, 27 de novembro de 2011

72 horas in clown

***** Pelo tamanho dos posts já postados no meu próprio blog, vou postar os começos de cada dia com um link para os posts completos. Não consegui um jeito de importar tudo de lá. - os posts diretos estão no www.pivosmose.blogspot.com*****************


Dia 1 – 12:20

No final de meses de pensando em muitas performances, algumas realizadas e grande parte delas ainda guardadas na gaveta e buscando uma alternativa à ideia da “corrida do metrô” que não pôde ser estruturada por motivos diversos, pensei em fazer o reenactment do “free hugs”. Porém, nos últimos 20 minutos troco minha ideia e farei o que batizo de “72 horas in clown”.
O número de 72 horas é fictício, a princípio não pretendo me ater a um número fechado. Mas essa base de horas é um mecanismo para manter uma disciplina pessoal.
A ideia da performance é passar a maior parte do tempo possível durante minha vida pessoal com um nariz vermelho de palhaço. A ideia veio inspirada na aula de ATAT em que, por conta de uma festa de aniversário, ficamos toda a aula com um chapéu de aniversário, gerando o questionamento do quanto a imagem afeta as relações sociais.
Meu objetivo é observar o quanto as relações mudam em relação a mim, mas principalmente o quanto eu mudo em relação os outros. Não tenho um clown no sentido formal. Nem trabalhei com palhaço diretamente durante minha vida profissional, porém o uso do nariz em momentos específicos sempre me trouxe um certo relaxamento e liberdade nos riscos de relação. Pretendo perceber as mudanças durante esses dias (a princípio até segunda feira às 15 horas) e ir registrando neste blog em períodos indefinidos.
Logo ao definir a performance, esbarrei em dificuldades minhas de cunho pessoal. Mesmas dificuldades que talvez tenham me impedido de trabalhar nas outras performances. A previsão de situações que eu me vi tendo de passar com o nariz de palhaço, como compromissos profissionais por exemplo me criou certa tensão.
continuação: http://pivosmose.blogspot.com/2011/11/72-horas-in-clown.html


72 horas in Clown - Dia 1 - em tempo real no tempo virtual

via facebook
72 hs in clown - reação de avó "o que é esse nariz? por causa da poeria da obra?" - e seguiu sem nenhuma mudança aparente. - 14:25 - 24/11/2011
72 hs in clown - "vi de longe, achei que o seu nariz estava inchado. protestando contra o quê? a obra?!" - Dinha, trabalha aqui na casa

maiores detalhes, olha no meu perfil do facebook:  https://www.facebook.com/pivomaia (não descobri como postar links para os posts diretos.

anotações ao longo do dia - 24/11


- Questões de avó: “Olha Pedro, qualquer coisa você sabe que tem aquele outro nariz não é? Ele tá limpinho.”
continuação: http://pivosmose.blogspot.com/2011/11/72-horas-in-clown-dia-1-em-tempo-real.html


72 horas in clown - É falta de educação falar do nariz dos outros


Fim do dia 1 - 24/11




Ao fim do dia estava exausto. O nariz impõe minha presença aos outros. Se a princípio eu achei que iria me dar uma certa liberdade maior por estar mascarado, a máscara me poe em evidência. Tanto para os outros quanto para mim mesmo. Estar em evidência por uma, duas horas é uma coisa, é mesmo meu trabalho. Mas durante todo o tempo ser lembrado por um elemento externo que você está ali naquele momento e naquele lugar é extremamente cansativo.
Por muitas vezes me pegava adiantando processos, pensando já no que poderia acontecer ao chegar em tal lugar ou falar com tal pessoas com o nariz.

continuação:  http://pivosmose.blogspot.com/2011/11/72-horas-in-clown-e-falta-de-educacao.html


72 horas in Clown - Dia 2 - Clown Clownsa

 
Já acordo atrasado para um show que iria na Cinelândia às 13:00. Com as obras aqui em casa e ainda as mil coisas atrasadas a serem resolvidas o nariz era só mais um fardo a ser enfrentado. Já acordei pensando “que saco esse nariz”. Celular descarregado, aula a ser planejada para a manhã do dia seguinte em Niterói, compromissos e a porra do nariz de palhaço.
Me explico: se eu estou de mal humor, ou com alguém que não estou afim, ou com energia pesada e baixa eu simplesmente sigo reclamando ou fingindo que não existo e faço tudo o que tenho de fazer.
continuação:  http://pivosmose.blogspot.com/2011/11/dia-2-72-horas-in-clown-clown-clownsa.html


72 horas in clown - Dia 3 - O Palhaço Clownrequinha está morto!

Dia morto. Pra relações sociais. Na internet não importa se estou vestido, pelado, com nariz vermelho, azul ou sem nariz.
 continuação: http://pivosmose.blogspot.com/2011/11/72-horas-in-clown-dia-3-o-palhaco.html


72 horas in clown - Dia 4 - Eu não gosto de palhaço




Acordo cedo depois de uma noite pessimamente dormida. Tenho a mesma sensação que já tive de um certo ódio e apreensão por ter de sair novamente com o nariz. Sempre a antecipação.
continuação:  http://pivosmose.blogspot.com/2011/11/72-horas-in-clown-dia-4-eu-nao-gosto-de.html



sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Ônibus ocupado é palco para poesia e performance

“...em lugar de um relato (‘voltar a levar’), pensemos na elaboração dos escritos do artista pesquisador interessado em discutir conhecimentos desenvolvidos a partir da elaboração ou apresentação de um acontecimento cênico como um translato.”

Diego Baffi

Confesso que a idéia da “transcriação” de um acontecimento artístico em uma “recriação” no trabalho escrito me provocou, pelo motivo de nunca ter feito uma coisa assim ou só apenas tentado de forma confusa, sempre recebendo reclamações dos professores. Acho que falar sobre arte e como ela é comunicada é algo extremamente difícil, que realmente exige do pesquisador uma escrita afetada pelo objeto artístico, e não um distanciamento de análise. Por isso, sou bem otimista com a idéia do “artista pesquisador” para uma investigação mais profunda sobre o poder da arte e até mesmo para o que o artista transcenda ainda mais na comunicação.

No início das aulas de ATAT quando soube que o tema do semestre era a felicidade como performance, fiquei meio sem entusiasmo, pois sempre achei que certos conceitos convencionais de felicidade atrapalham na criação artística, pois não provocam a inquietação que faz com que almeje a liberdade e sim um comodismo que não traz a transformação. Mas, logo mudei de idéia quando percebi que a proposta da Tânia Alice era justamente refletir sobre isso.

Nesses parâmetros, para mim a felicidade é a liberdade de expressão e para atingir esta liberdade só dando cara a tapa mesmo. É preciso coragem para quebrar as convenções desta falsa felicidade anestésica, desta busca pela glória individual que só produz mais do mesmo no campo artístico. Por isso a performance para este trabalho é o que já faço a algum tempo, que é a intervenção artística nos ônibus para vender livretos de poesia, que pode ser vista como comércio informal de ônibus, o que não deixa de ser verdade por ser uma forma de ganhar dinheiro.

Esta é a capa do livreto:

A idéia surgiu pela influência de alguns integrantes da banda Na Sala do Sino, que estes, divulgam o trabalho da banda, tanto musical quanto de poesia, nos ônibus. Isso foi no semestre passado quando o tema de ATAT era nomadismo e a idéia da mobilidade da arte foi uma espécie de arquétipo, pois era evidente que o ônibus era a melhor forma de palco móvel para aquele momento, não é só pelo ônibus estar em movimento, mas também porque o palco vai até o espectador inesperadamente. Isso faz com que o passageiro-espectador seja provocado e mobilize sua própria capacidade de reação, mesmo que seja a de ter preconceito ou inquietação por estar incomodando seu espaço para pedir dinheiro, o que muitas vezes acontece. Muitos não olham, outros ficam sorrindo para a janela e olham disfarçadamente, os que olham, olham com verdade e eu devolvo o olhar, alguns interrompem para interagir e o aplauso é sempre inesperado.

Para fazer o primeiro ônibus do dia, a ação começa ao caminhar nas ruas, o corpo vai se preparando andando e meditando, como sugere Thich Hanh. E assim vai até o ponto, onde começa o sofrimento do conflito interno em busca do impulso que faz pedir ao motorista para mostrar o trabalho no ônibus. Dificilmente é no primeiro que consegue, mas isso não é ruim, pois ajuda a desconstruir a menina de família para entrar no espírito da malandragem. O charme ajuda. Alguns motoristas ficam confusos sem saber que trabalho é esse que quero mostrar. O mais engraçado foi o que disse que eu poderia fazer qualquer coisa, menos baixar o santo. É assim, quando o motorista diz que pode, o impulso me leva e entro já falando com todos. É mais ou menos assim:

- Tem alguém com tédio aí? Tem alguém apaixonado aí? Alguém com pressa? Alguém querendo fugir para qualquer lugar que não especule tanto assim oh imobiliária? Alguém quer uma passagem para a lua? E aí cara você cobra a dor?

Daí sim me apresento, digo que sou da Bahia e minha profissão é de cameloa, que vim pro Rio sem saber porquê, talvez pela poesia. Este é o momento do “mal secreto” do poeta Waly Salomão com o eu feminino:

-Não choro
Meu segredo é que sou uma moça esforçada
Fico parada, calada, quieta,
Não corro, não choro, não converso,
Massacro meu medo
Mascaro minha dor
Já sei sofrer
Não preciso de gente que me oriente
Se você me pergunta
Como vai?
Respondo sempre igual
Tudo legal
Mas quando você vai embora
Movo meu rosto no espelho
Minha alma chora
Vejo o Rio de Janeiro
Comovo, não salvo, não mudo
Meu sujo olho vermelho
Não fico calada, não fico parada, não fico quieta,
Corro, choro, converso
E tudo mais jogo num verso
Intitulado
Mal secreto.

Esta poesia é bem direta, é uma conversa com os passageiros. Um cara brincou uma vez dizendo que meu marido era um coitado, e ficou tudo muito descontraído. Sempre quando uma pessoa interage, desencadeia uma comoção maior, assim é quando há aplausos, geralmente é uma pessoa que começa.

O modelo da apresentação segue com poesia e capela, mas é sempre diferente a cada ônibus. Penso que exista algum misticismo, de que os ônibus são escolhidos por algum acaso especial. Como no ônibus que peguei para ir para aula de ATAT, que foi no primeiro que pedi. Neste ônibus tinha uma senhora da Paraíba bem animada, quando comecei a cantar “assum preto” de Luiz Gonzaga, ela ficou pedindo no meio da música para cantar forró, mas ela mesma puxou uma embolada e não parou de cantar! Levantou e disse para todos que ônibus é lugar de sorrir! Isso sim é felicidade.

Para apresentar o produto, que é o livreto de poesia, fiz uma paródia de uma canção de uma vendedora de tamborete do Recife que está fazendo sucesso na internet. Esse é o link: http://www.youtube.com/watch?v=cuKvV6ti_wM

O que canto é

- Óia o livreto oiá,

óia o poema paguem o que quiser oiá,

serve também para cantar, memorizar,

contar o bem usando o mal oiá

A canção funciona bem. Mas o que funciona melhor ainda é trabalhar para sobreviver mesmo. Quando estou com fome, o desempenho é melhor e qualquer salgado na rua tem o sabor especial. É uma questão de escolha de vida como identidade.


Mariá de Castro

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Sínteses. Postado por Fabiane Cota.

Síntese dos Livros de Regina Melim ( Performance nas Artes Visuais) e Lehmann (Teatro Performance)

No Texto Performance das Artes Visuais de Regina Melim autora faz um percurso histórico e conceitual da arte performática. Ela esmiúça o termo que surge em 1960 e 1970, colocando as diversas possibilidades do trabalho performático. A própria autora diz em sua introdução que ao se pensar em Performance sobretudo nas artes visuais fica-se muito marcado sobretudo neste período um trabalho onde há a utilização do corpo.

A autora então dialoga com as referencias de arte conceitual da década em questão afim de desmistificar a noção de performance em um único formato onde o corpo é o núcleo de investigação e expressão.

Apresentando ao seu leitor a performance com uma ampla forma de trabalho, que envolvem pintura, desenho, vídeos, filmes, instalações etc. Outro conceito colocado é o espaço de performação como espaço que insere o espectador.

Como trajetória ela apresenta um pouco do livro de RoseLee Goldberg “A arte da performance: do futurismo ao presente” que apresenta a performance do século XX como uma trajetória de grandes variáveis.

Com as vanguardas européias podemos observar já ações performáticas, sendo que após segunda guerra houve ações mais intensas, mesmo com ações estilísticas e mesmo denominações diferentes todas essas ações: happening, Fluxus, aktion, body-arty, dé collage entre outras foram enquadradas sob a terminologia performance.

Em meio a essa trajetória performática um momento de destaque é para a música experimental de Jonh Cage “música não mais como sucessão de notas, harmonia e ritimo, mas como pulsação, fruição, temporalidade e espacialidade.” Onde a música e a musicalidade ganham um novo sentido e como Jonh Cage próprio denominaria como música-ação.

A grande questão apresentada por Regina Melim sobre a Performance e como objeto da vida cotidiana é um núcleo de investigação no trabalho do performer, em 1950 esse objeto deixa de ser apenas objeto de investigação e passa a ser inserido como material para a arte.

Outra relação colocada pela autora é com o espaço onde o artista faz deste um ponto de encontro, onde o mesmo seria democrático e cada pessoa poderia estabelecer-se como quisesse.

Outra característica forte e esta atribuída aos acionistas vianenses é uso do corpo, e este deveria ser levado ao extremo, com dor ritualizada, esforço físico e concentração para além dos limites.

No Brasil a arte performática passou por vários processos e leituras, uma reavaliação da presença do objeto na arte, com novos objeto e mídias, mas que passaria de ordem sensível pelo corpo. Hélio Oiticica propunha uma aderência completa do corpo na obra e da obra no corpo. Essa aderência traria o espector-participador sendo agente da experiência. Regina Melim relata inúmeros trabalhos performáticos que dão conta de reavaliar esse objeto oferecido à participação.

O que fica forte nestas experiências é que o objeto era algo que só poderia ser potencializado a partir da participação. Outra questão colocada e foi o espaço da arte, várias performances no Brasil colocavam a questão do espaço performático e mais grupos que colocavam de forma crítica diante de museus, galerias e curadorias.

Com desdobramentos de todo o trabalho performático Regina Melim explica como a partir dos anos de 1990 que todas essas possibilidades são reavaliadas. Como conceitos colocados por outros estudiosos e artistas a autora expõe a performance como algo irrepetivel e único. A performance é viva e única, documentá-la é apenas manter sua memória e não manter a mesma viva.

A performance também pode ser considerada uma forma hibrida, que podem ocorrer sem sem registros, ou mesmo serem transmitidas via satélite, envolvendo grandes espaços ou pequenos espaços. Podendo ser realizadas por um único performer ou coletivamente. O que também geraria um debate sobre o caráter efêmero da performance, dessas discussões surgem o idéia de se reapresentar as performances, modificando-as e dando uma reconstrução. “A performance só pode viver se for apresentada de novo”.

No final de 1960 foram inseridos e início de 1970 as câmeras de vídeo passam a integrar o processo de alguns artistas. A primeira geração de vídeos consistia basicamente no registro das ações performáticas, sendo depois inseridos como objeto e espaço da ação performática;

Sendo extensão de suas experimentações.

O que fica claro é que a performance é ampla em possibilidades de trabalho e espaços, mas está ligado ao seu caráter singular do trabalho da relação, com o espectador o artista e a obra.

Teatro Performance:

Lehmann.

O texto propõe analisar a arte conceitual como experimento do real sendo o real espaço, tempo e corpo. Lehmann procura em seu texto analisar o que é o teatro experimental e o que a performance. Não as diferenciando, ou encontrando simplesmente pontos de diferença entre elas, mas a analisando e entendendo seus mecanismos. A arte performática se afirma nessa representação da realidade. Sendo características a irrepetibilidade, a instantaneidade e simultaneidade como valorização de um processo-tempo de constituição dessas imagens.

O que torna interessante é essa questão da passividade do espectador, que na ação performática deve desaparecer, ou melhor, construindo a idéia a passividade do espectador também é uma forma de ação que construirá a performance.

“É inquestionável que o público, na condição de parceiro participante no teatro e não mais de mera testemunha exterior , decide sobre o êxito na comunicação.” (Lehmmann)

Outra questão abordada no texto é atuação e a não atuação. Sem distinções propriamente técnicas o autor coloca o performer como um artista que se move entre a atuação simples e a não atuação. Sendo que o importante não a vivência de um personagem, mas, uma provocação de sentido. Onde o público é

A performance então é algo que não pressupõe uma espetacularização, mas um movimento de tradução de uma questão do performer em questão artística.

A performance precisa então de “produção de presença” de estar em relação de um face a face com o espectador. Dessas questões a mesma contitui-se em comunicação e interação mesmo que a interação seja a passividade de quem está perante ao trabalho performático.

Lehmann coloca a arte performática como processo de “autotransformação” e exemplifica com as ações feitas por artistas que em geral afetam o próprio corpo. Exemplos como de Marina Abramovic foram colocados para o entendimento de um inicio de performance nos 60 e 70 que queria romper com as normas sociais, sendo a atitude assumida um escolha e um risco a ser assumido pelo artista e a ser experimentado pelo espectador. Expõe que o ator está num movimento sempre de repetição de seus gestos, enquanto um performer ao contrário faz de seus gestos únicos. A arte da performance então é uma arte do presente, do agora.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Performance como linguagem artística multidisciplinar


 Neste semestre o tema escolhido para desenvolver as performances foi Felicidade. Partindo de uma reflexão sobre felicidade como ponto de partida para performances, percebi que felicidade é algo particular. É a plenitude, satisfação, equilíbrio físico e psíquico. Abrange a emoção ou  sentimentos.


                                                                                     Andar de bicicleta "fortalece o corpo e a alma"



 A primeira performance foi realizada nos jardins da UNIRIO, no I Seminário Internacional Corpo Cênico: linguagens e pedagogias, no dia 12/9 das 13h00 até 14h30. Tive a idéia de andar de bicicleta pelo jardim, mas, não seria uma simples bicicleta. Enfeitei com chocolates e figuras de desenhos animados dos anos 70, 80, 90 até aos dias atuais. Estive revivendo minha infância ao colar e recordar aqueles desenhos, como por exemplo: Doug Funnie, Turma da Mônica, He Man, Cavaleiros do Zodíaco entre outros. Num momento percebi que estava rindo. Pensamento que foi longe ao pensar nas frases, gestos, daqueles personagens de desenhos animados. Além do gosto particular em andar. Compartilhei meu objeto "bicicleta" com outras pessoas, que pediram para andar.
 Andar de bicicleta é um libertador de stress. Independentemente de você andar puramente por prazer ou por uma finalidade específica, você chega ao seu destino sentindo-se relaxado e feliz sobre o mundo e sobre si mesmo. Andar de bicicleta oferece muitos benefícios à saúde: aumento da força, equilíbrio e flexibilidade, aumento de resistência, um maior número de calorias queimadas.


                                                                         "A paz começa com um sorriso" Madre Teresa de Calcutá

 Minha segunda performance foi coletiva, era ri na escadaria da Câmera Municipal do Rio de Janeiro. Rir é o melhor remédio. Não tinha nenhum propósito, simplesmente ri. Seria um leve sorriso como diz o texto Meditação Andando: “leve sorriso é fruto de sua consciência de que você está aqui, vivo, andando. Ele nutre, ao mesmo tempo, mais paz e alegria dentro de você”. Essa performance já foi feita em 2011.1 na turma de ATT. Essa experiência pode se re-feita em qualquer situação. Pode ter vários  propositos, como politico.

“O re-enactment, forma de preservação ao vivo de um acontecimento performático implicando corpo, presença, autotransformação do performer e reciclagem de energias, não é um ato retrospectivo somente que tenta manter a ilusão da permanência e retenção do efêmero de maneira aparentemente duradoura” Tania Alice 


 “O essencial da arte performance é a imaginação de um número maior de artistas no futuro que qualquer outra forma de arte” Regina Melim

 Minhas idéias estavam soltas... Resolvi fazer minha terceira performance na rua e depois fazer uma montagem no computador com as fotografias selecionadas. Registrei os sorrisos das pessoas que passavam na rua. Achei que as pessoas estavam felizes, porque toda hora que tirava uma foto... todos mostravam os sorrisos.
E para homenagear meus colegas de turma de Atat, fui a uma rede social e selecionei uma foto e coloquei no vídeo.

Será que você conhece seu sorriso? 





  O interesse por fazer essa performance é porque o sorriso é uma consequencia direta da felicidade. O segredo da felicidade é encontrar a nossa alegria na alegria dos outros, os sorrisos das pessoas me faz feliz. Um sorriso caloroso é a linguagem universal da simpatia. Um dia em que não se ri é um dia perdido. Por isso, devemos rir. O poder do sorriso é grande, e saber sorrir é algo de muito importante. Antoine de Saint-Exupéry diz: "No momento em que sorrimos para alguém, descobrimo-lo como pessoa, e a resposta do seu sorriso quer dizer que nós também somos pessoa para ele". 
 Sorrir, faz bem à pele por isso, não faz mal algum. Deve se sorrir um determinado número de vezes por dia, para impedir o ataque repentino das rugas. Vista-se de sorrisos e, abrace o mundo com a sua atenção e delicadeza.
  As performances foram concebidas a partir do desejo de experimentação e da novidade. Uma experiência maravilhosa.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Que saudades da aurora da vida/ Da minha infância querida

Eu tinha exposto em sala que o "tema" com o qual eu queria dialogar na minha performance era o fato das crianças estarem perdendo suas infâncias, tendo como preocupação a beleza, os namorados, dinheiro edeixando de fazer o que crianças tem que fazer, que é se divertir. Brincar, não ter vergonha de dançar em festas, querer compartilhar suas dúvidas com os pais, assistir desenho animado, brincar de faz-de-conta.
Foi nesse último elemento que eu me baseei, no faz-de-conta. Quando eu era pequena (não que eu não o seja hoje), gostava muito de inventar histórias. Criava personagens e distribuia entre as minhas amigas. Parando pra pensar nisso, é que percebo o quanto essa graduação em teatro foi somente uma retomada às minhas origens. Pensei em duas opções:
A primeira seria me fantasiar, sair por aí fazendo coisas do dia-a-dia, como ir ao cinema, almoçar, passear pelo shopping, vestida de boneca. Mas daí me veio uma grande questão que nós conversamos bastante em sala, a questão da responsividade. Percebi que eu não conseguiria, sendo tímida como eu sou, passar o dia inteiro encarando pessoas que me olhassem com desdém os estranhamento, sem ter algum tipo de resposta, sem ficar desestimulada e com vontade de ir para casa e encerrar a performance. Passei então para a minha segunda proposta.
Ainda nessa linha do faz-de-conta, eu pensei em algo com o qual eu me divertia bastante, que era atravessar a rua fingindo que entre as linhas da faixa de pedestre houvesse lava derretida, ou jacarés famintos e dragões descontrolados soltadores de fogo, como se aqueles espaços pretos fossem uma área proibida. Pensei que seria ótimo, que era uma performance pontual, rápida, que passaria a minha questão sem que eu tivesse de me expor por tanto tempo. Mas não importa o quanto eu remoesse essa ideia, ela nunca me parecia boa o suficiente. Eu achava que faltava algo pra que aquilo, aquele momento, deixasse de ser só "uma pessoa atravessando a rua e passasse a ser uma pessoa lutando em favor da infância. Pensava no que eu poderia fazer para que as pessoas entendessem que aquilo se tratava de uma luta pela infância, em como tranformar aqueles segundos da travessia em algo significativo, mas nada parecia bom o suficiente. E então eu percebi que nada pareceria bom o suficiente.
Todas as ideias que eu tinha, eu propositadamente recusava. Claro que demorei algum tempo pra perceber isso, porque eu sempre fui do tipo que gosta de fazer o que se propõe. Mas aquilo não ME faria feliz. A minha felicidade não está em performar, não está em sair na rua e chamar atenção. Conversei com a minha mãe sobre esse conflito que eu estava tendo. E ela me disse uma coisa que eu já sabia mas que tentava negar. Eu não gosto de plateia. Desde sempre eu escolhi ficar nos bastidores. Minha satisfação vem muito mais de fazer um desenho e gostar (ou ter outras pessoas que gostem) do resultado, do que de ter todos sabendo que fui eu quem fez aquele desenho. Eu ficaria feliz se eu pudesse simplesmente pedir que alguém fizesse a performance por mim, mas senti como se isso fosse trapaça. Achei mais correto simplesmente admitir que eu não fui feita pra isso.
Relembrando, pensei na minha performance dos abraços grátis. Como aquilo foi divertido por alguns instantes, mas depois se tornou só mais uma tarefa, algo pelo qual eu tinha que passar. Gostei de perceber que eu era capaz de ter uma ideia interessante para uma performance inédita(apesar da Tânia ter dito que ela tinha acabado de ver alguém fazer uma performance igual no ABRACE, aquela ideia era inédita para mim). Mas eu fiquei muito mais tranquila depois que pude tirar todo aquele plástico-bolha que me envolvia.
E agora um desabafo, em relação à performance do riso. Por mais que eu me dissesse que eu não iria só porque já tinha feito aquilo no período anterior e estaria apta a falar disso agora, também tinha outro pensamento passando pela minha cabeça. Eu realmente não queria fazer aquilo de novo. Foi engraçado? Foi. Passou uma mensagem importante? Passou. Foi divertido? Foi, por um ou dois minutos.
Por esses motivos, é que não me pareceu certo fazer uma performance. No início fiquei intimidada pela ideia de ter de superar ou escrever, pelo menos, tão bem quanto a aluna que a Tânia citava, que não quis performar. Mas resolvi botar essas inseguranças de lado e simplesmente assumir essa escolha. Não sou performer, e nisso está a minha felicidade.