terça-feira, 21 de junho de 2011

Casa à Deriva

O segundo experimento coletivo da disciplina se deu no dia 25/05/2011. A proposta era que derivássemos a partir de um mapa situacionista elaborado por algum colega de classe. O local para a deriva foi a Urca, bairro em que estudo e moro. Minha única preocupação com esse experimento era não me deixar influenciar tanto quanto ele propunha. Como sou muito curiosa, li o mapa inteiro antes de começar e, por ser bem tranqüilo, procurei ao máximo vivenciar cada comando. Coloquei na cabeça que conhecia a Urca apenas no trecho da UNIRIO, para que pudesse me deixar levar pela proposta do mapa, e não pelo que eu já conhecia do bairro. A ideia do urbanista errante foi fundamental nesse momento:

“O urbanista errante- que, como no caso do arquiteto urbano, seria sobretudo uma postura com relação ao urbanismo enquanto disciplina e prática- seria aquele que busca o estado de espírito errante, que experimenta a cidade através das errâncias, que se preocupa mais com as práticas, ações e percursos, do que com as representações gráficas, planificações ou projeções, ou seja, com os mapas e planos, com o culto do desenho e da imagem. O urbanista errante não vê a cidade somente de cima, em uma representação do tipo mapa, mas a experimenta de dentro, sem necessariamente produzir uma representação qualquer desta experiência. Esta postura com relação à apreensão e compreensão da cidade por si só já constitui uma crítica com relação tanto aos métodos mais difundidos da disciplina urbanística- como o ‘diagnóstico’, baseado principalmente em bases de dados estatísticos, objetivos e genéricos- quanto à própria espetacularização urbana contemporânea.”


Em um dado momento, a sugestão do mapa era que eu meditasse na praia, e essa ação foi a mais importante para mim. O mar já é algo que por si só me tranqüiliza e esvazia a cabeça, e a meditação me ajuda a focar minha atenção, a me concentrar. Depois disso, me deixei levar mais facilmente. Não muito tempo depois, comecei a reparar nas luzes da praça General Tibúrcio, na Praia Vermelha, e passei a seguir as instruções do mapa me deixando guiar pelas luzes das casas. A Urca é um bairro atípico do Rio de Janeiro e, por isso, dá mais espaço para sermos lúdicos, mudarmos o nosso tempo, a nossa correria. E, a partir desse maior espaço, desse espaço instável e em movimento, que me vi de fato derivando, percebendo o que me chamava atenção nessas luzes: a sensação de cidade pequena, a ideia de que à noite as pessoas se reúnem na praça da cidade para conversar, rir, se divertir. E, naturalmente, o caminhar lento do urbanista errante se instaurou. Eu passei a andar porque as luzes me atraíam, não porque tinha uma tarefa a cumprir, um lugar para chegar. A ideia da deriva consiste, basicamente, em andar sem rumo, sem propósito, se deixar levar apenas. Somada a um mapa situacionista essa ideia se preenche de novas ressignificações do espaço urbano, espaço esse que, muitas das vezes é mais a nossa casa do que aquele lugar em que dormimos, comemos, tomamos banho, assistimos TV com a família. Enxergar a cidade de dentro é, de certa maneira, tomá-la para si, torná-la o nosso lugar agradável, querido, confortável e disposto à nossa maneira. E isso não atrapalha em nada o nosso ir e vir com metas e tarefas a cumprir, apenas torna essas coisas mais fáceis e prazerosas de se realizar.


Referência bibliográfica:
JACQUES, Paola Berenstein, Elogio aos Errantes: a arte de se perder. Salvador: Editora WB. 2006.

Um comentário:

  1. Tive dificuldades em postar o vídeo que eu fiz. Se eu conseguir resolver o problema deixo o link aqui!

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