sexta-feira, 24 de setembro de 2010

“I`m so sad to tell you too”



http://www.youtube.com/watch?v=dMbdb2Q3kdI


Estava muito inquieta durante a escolha de uma entre muitas questões que me assolavam para realizar uma performance reenactment. Entretanto após a última aula de ATAT – (Análise dos temas e doa autores teatrais), em 13/09/2010, adquiri um tersol muito agressivo em meus 2 (dois) olhos, o que me deixou muito deprimida com consecutivas crises de choro devido a minha aparência, com relação ao meu estado de saúde, uma vez que o próprio médico disse que era atípico estar com tersol em ambos os olhos com tamanha intensidade e ainda muito apreensiva por não conseguir cumprir com meus compromissos e em relação ao meu desempenho no curso como um todo (pois não mais estava conseguindo ler e estudar os textos de apoio e muito menos freqüentar as aulas pois o incomodo era muito grande e necessitava de constantes cuidados médicos ).
Após uma visita ao oftalmologista em 20/09/2010, enquanto retornava para casa me encontrava usando óculos escuros quando um homem me abordou na rua fazendo uma cantada ofensiva, na mesma hora me veio a cabeça abaixar os óculos escuros e lhe dar um susto mostrando meus olhos naquele estado repulsivo, assustador e horrível, mas não consegui naquele momento transcender meu estado atual, deixar a racionalidade de lado e seguir meu impulso realizando a merecida piada. Fiquei muito aborrecida comigo mesma por ter perdido uma excelente piada. Comecei a questionar o meu grau de vaidade, que conscientemente sempre considerei alto, e até que ponto a minha tristeza com relação a minha aparência momentânea não estaria atrelada e refém de uma sociedade de consumo que valoriza ao extremo rígidos padrões estéticos.
Desse modo decidi que para escolha da minha performance seria importante expor à contemplação minha presença da maneira precária e pavorosa que me encontrava realizando a performance com uma experiência do real usando meu próprio corpo como o objeto de investigação e realizar um vídeo autobiográfico, desconstruindo minha própria imagem. Apresentar esse questionamento sobre os padrões dos ideais de beleza ao fazer uso do tersol estaria transformando uma realidade tanto pelo fato de transformar a manifestação de uma doença em arte quanto pelo fato de propor uma transformação em mim renegando e rompendo com a minha vaidade e aos que poderiam estar em condição infeliz vitimado pela busca de padrões estéticos muitas vezes inalcançáveis.
A escolha do vídeo “I’m too sad to tell you” de 1970, por Bas Jan Ader (vídeo em que a partir de uma atuação simples aparece chorando durante alguns minutos em frente a câmera porém sem encará-la), aconteceu por estar intimamente e diretamente ligado a minha realidade daquele momento visto que inúmeras vezes durante esse período quis permanecer longe do olhar do outro e estive muitas vezes literalmente aos prantos. Também em um paradoxo a efemeridade e fragilidade da minha situação agora está documentada e registrada.
Esse vídeo foi gravado no mesmo dia 20/09/2010 em que houve o fato com o homem na rua que gerou a idéia desse registro quando já estava bem recuperada do tersol. Assim que me coloquei em frente a câmera por incrível que pareça acho que se deu o processo de auto-transformação pois não consegui chorar tão copiosamente como havia acontecendo nos últimos dias, penso que no momento da materialização da idéia, da real exposição diante da câmera quando realizei de alguma forma e sabia que estaria exposta daquela maneira ao outro, assumi, me conformei em parte, com o real estado momentâneo da minha presença. Diferente do vídeo arte original dentro do contexto que inseri encarar e explorar a câmera possuía um sentido fundamental na realização desse reenactment o que configurou a este uma vida própria e o nomeei “I`m so sad to tell you too”.
Com o objetivo de alcançar o êxito na comunicação optei por explorar os recursos audiovisuais e editar adicionando uma foto minha ao final em condições normais de presença revelando a instantaneidade e irrepetibilidade da situação exposta e registrada no vídeo.

Performance original:

2 comentários:

  1. Pode não ter sido conformidade, mas defesa... O q visivelmente contrasta com o seu desconforto com a situação. Eu gostei. De alguma forma o vídeo e sua análise me tocaram... E, por mais banal q possa parecer, depois de ler seu relato, achei mesmo corajoso. Adoraria q pudéssemos refletir e conversar sobre... BJOKONAS.

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  2. Oi, Luciana. Muito corajoso este seu trabalho, pois parte justamente do que é difícil, para trabalhar em cima dele. Parabéns. Mesmo. E uma exposiçao que explora um íntimo, mas um íntimo que pertence a todos. Dialoga com o trabalho de Orlan, por exemplo. Em breve, conversamos sobre a parte mais "técnica", mas por enquanto descanse, melhore e volte rápido com este seu novo olhar transformador e transformado.

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