Regina Melim traz em seu livro, uma grande apanhado muito esclarecedor sobre o que vem a ser Performance. Logo na introdução ela diz:
-“O termo PERFORMANCE” é tão genérico quanto as situações nas quais é utilizado”.
Durante o livro ela apresenta as múltiplas possibilidades de uma performance e suas influências. Curioso saber que essa prática de arte, ao contrário do que eu pensava, é praticada, pesquisada e pensada desde a década de 70, que já surgia diferentes formas, práticas e denominações para o que já se fazia. Algo já era feito na década 60 onde se agrupava teatro, danças, música e poesia. A meu ver, foi surgindo naturalmente uma necessidade de tornar as artes mais expressivas e o caminho foi reuni-las criando uma nova arte conceitual rompendo, ainda que com influência, as artes de vanguarda. Outro ponto curioso no livro, é que deixava de se pensar a arte, onde o artista cria a obra e o espectador permanece com um olhar passivo. As obras começaram a ter como ideia à participação. A obra dialoga com o espectador, o espaço, o tempo e ate mesmo com o seu criador. Criando assim uma noção de performance, onde a obra dialoga com o espectador. Lendo o livro, e sem essa pretensão, percebi que é difícil definir um conceito único de performance nas artes visuais. No final da introdução, Regina Melin coloca:
“...Quando o assunto é performance, é sempre um número muito variável de concepções, as quais não se postulam como obrigatórias para atingir um consenso”.
Autora cita ainda, grandes nomes dentre autores e artistas que criaram conceitos próprios da arte da performance. Como Roselee Goldberg com seu livro “A arte da performance: do futurismo ao presente” que assinala a trajetória da performance no séc. XX; o historiador da arte Gregory Battock que 1984, em seu livro “ Arte da Performance – A antologia da crítica” que sinalizava que a arte da performance, provavelmente engajaria a imaginação de um número muito maior de artistas; e a Professora de História de arte Kristine Stiles que cita os protestos sobre a terminologia PERFORMANCE ART, que para os artistas da década de 70 acreditavam que o termo despolitizava seus objetivos, aproximando-os do teatro, muitas vezes associado a ideia de representação e entretenimento. Em comum os autores, falam da trajetória, das perspectivas, manifestações e descrições de artistas e suas obras. Vale salientar que Regina fala de Jackson Pallock e seu trabalho, apresentado no Museu de Arte Moderna de Nova York em 1951, onde se registrou, em vídeo, a pintura de um quadro em seu atelier e que naquele momento a pintura se estabelecia como um evento performático. Esse momento se tornou histórico e influenciou artistas do mundo inteiro. Seguindo um dos conceitos da participação e influência do espectador na obra, surge Lucio Fontana com o conceito espacial em 1947 com seus labirintos monocromáticos que solicitavam a participação do espectador, aumentado ainda mais o conceito de. O livro vai relatando outras manifestações e artistas por todo o mundo, que pesquisam, experimentam, criam outras formas de apresentar e expressar sue conceito e obra. Ainda na década de 50, acontece o Curso de Verão ministrado por John Cage ainda em Nova York, que influência artistas como Allan Kaprow, Jackson MacLow, George Brecht entre outros. Penso que uma das características da arte, é a influencia continua que um artista ou obra exerce sobre outro artista, fazendo que novos conceitos e possibilidade surjam. Nesse curso de John Cage realizado em Nova York sobre composição de música experimental, influenciou esses artistas que trabalharam com seus grupos, podendo surgir um novo conceito durante o trabalho, tornou ainda mais rico o processo. Em Viena, por exemplo, surge um centro de ações performáticas, que para eles tratava-se de uma extensão da pintura como forma de libertar a energia reprimida, mediante atos de purificação e redenção do sofrimento. Outro dado curioso, que em Viena também dois nomes, Valie Export e Peter Weibel colaboraram para a performance em espaços urbanos. Os mesmos desenvolveram uma série de performances na rua em sintonia imediata com muitas ações, onde se pensava naquele período e no mundo todo, as situações instáveis e a alteração do lugar da obra. Penso que, começa a surgir um conceito mais amplo da obra dialogando com espaço e a cidade passa-se tornar o lugar de apresentação dessas obras. E que a cidade, mas especificamente a rua, é palco da vida das pessoas, um lugar de transformação política, transformador e democrático, capaz de trazer a transformação que a sociedade tanto necessita. Percebi com a leitura do livro, que o tema Performance, é vasto mas não tão complexo. A arte e os artistas passam por transformações ao longo da história. Sofrem influências da sociedade em que vivem de outros artistas e obras, da inquietação e questionamentos que passam naquele período e apresentam uma grande necessidade de dialogar com outras pessoas. Penso que as obras em si, sejam materiais ou transformadas em ações/gestos, faz com que o individuo questione e reflita, sobre os seus possíveis significados, cumprindo a meu ver, a função da arte. Esses questionamentos podem vir a partir das performances de Mariana Abramovic, que utiliza dos extremos em suas obras, colocando a própria vida em risco; Vito Acconci que mordeu a si mesmo e esfregou-se contra parede para distender o tórax; Gina Pene, francesa que auto cortou-se nas mãos, pés e rosto e outros tantos exemplos apresentados ao logo do livro. Já no Brasil, a autora usa os termos resistência e sobrevivência para definir a performance, sobretudo nos anos 60 e 70. Cita Flávio de Carvalho, que segundo ela foi um importante antecessor, que denominou suas práticas como três experiências, que desvinculava as categorias artísticas tradicionais. Em 1931, numa procissão de Corpus Christi; em 1956 como um homem de saias andando por São Paulo; em 1957 realiza uma expedição pela Floresta Amazônica que resultaria num filme no qual não aconteceu, porém durante a expedição foram feito contatos com tribos indígenas isoladas. Todos esses feitos foram registrados em livros, e constituem testemunhos de uma ação precursora na trajetória da Performance no Brasil. Ainda durante os anos 60 e 70, houveram várias ações no Brasil, como descrita pelo crítico Mario Pedrosa e definida pelo mesmo de experimentalidade livre, que correspondiam, principalmente a uma profunda reavaliação da presença do objeto na arte. Hélio Oiticica, Lygia Clark e Lygia Pape são três dos artistas brasileiros citados no texto, que passam a repensar a obra, o espectador e o espaço. Passam fazer sua arte utilizando o sensorial, o corpo, o movimento, o objeto e a manipulação do espectador em suas obras. Em 1969 o crítico inglês Guy Brett escreve um livro sobre arte cinética e observa que no Brasil nos anos 60, ocorria um cinetismo extremamente diferenciado dos demais países. Que a linguagem do movimento havia migrado também para experiências com o corpo, sublinhando sua extensão com a participação do espectador. A partir da observação de Guy Brett, e as experiências relatadas no capítulo sobre o Brasil, penso que os artistas brasileiros, ao longo das décadas de 60,70 e 80, também repensaram o objeto na arte, e suas obras apresentam, o que vou chamar de “liberdade expressionista”. Saem das galerias e museus e passam a usar a rua como espaço potencialmente criativo. O espaço urbano é um espaço instigante, pelo seu excesso de informações, possibilidades arquitetônicas e humanas. Artistas como o próprio Hélio Oiticica que tem as ruas do Rio como local para ações participativas; Artur Barrio que utiliza de materiais precários abandonadas pela cidade como madeiras e pedras, e orgânicos como carne e pão para criar sua obra; Antônio Manuel que na exposição realizado no Salão Nacional de Arte Moderna em 1970, ficou NU propondo próprio corpo como obra; Paulo Bruscky que no Recife, nas décadas de 70 e 80, realizou uma séria de ações no espaço urbano. Estes foram artistas que transpassaram as galerias, os quadros e até mesmo, as exposições tradicionais para se manifestar, expor e até mesmo criar sua arte num processo, de certa forma participativa e performática. Como no final da década de 70, onde um agrupamento de artistas de São Paulo ocupou espaços não usuais para realização de procedimentos artísticos, fechando galerias com fitas crepes e cobrindo esculturas e monumentos públicos com sacolas de lixo. Daí, observo que esses artistas cumprem um papel de inverter a percepção habitual da cidade e da arte. Quando esse espaço urbano sofre uma interferência artística, ele passa a ser outro espaço que não mais o espaço óbvio e comum. As pessoas passam a ser parte da obra e observam da perspectiva e da maneira que bem entenderem. O observador tem mais liberdade para analisar a obras, sem horário, ângulo ou conceito pré-definido. Mais curioso ainda, é saber que no final dos anos 90 foram surgindo novos grupos como o Hapax do Rio, Pipoca Rosa em Curitiba, Vaca Amarela em Florianópolis, Empreza em Goiânia e o Entorno em Brasília e todos criando intervenções e ações críticas contra as instituições culturais. Nos desdobramentos, Regina fala dos estudos críticos da década de 90, que reexaminan a noção de performance nas artes visuais com base em múltiplas possibilidades de alargamento das referências contidas no termo. A autora cita Kristine Stiles, teórica no assunto que apresenta algumas definições de performance:
-“... perfomances podem ser desde simples gestos apresentados por um único artista ou eventos complexos através das experiências coletivas...”
Chego à conclusão que performance é uma arte, literalmente livre. Que não precisa se criar algo material e concreto para expressar um pensamento; que pode ser uma ação curta e efêmera e que não resulte em algo concreto; uma ação cheia de objetivos e críticas intrínsecas; que exista uma certa inconformidade e/ou inquietação; que parte de uma questão interna do artista; que não necessita ou precisa ser registrada; que a obra possa venha ser resultado no próprio corpo; que pode ser feita com qualquer coisa ou lugar; Contudo a performance, ao meu ver, representa cada vez mais o modo de viver da humanidade, desde os anos 70 até os dias de hoje, e passa por questões das mais variadas e complexas. A performance tem uma urgência comunicativa, que não está nos quadros ou galerias. Uma urgência de chegar ao observador, provocando, inquietando e interferindo nesse observador, que não mais é só observador e sim também parte da obra.
Acho que estrapolei na minha síntese! rs
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