Eu tinha exposto em sala que o "tema" com o qual eu queria dialogar na minha performance era o fato das crianças estarem perdendo suas infâncias, tendo como preocupação a beleza, os namorados, dinheiro edeixando de fazer o que crianças tem que fazer, que é se divertir. Brincar, não ter vergonha de dançar em festas, querer compartilhar suas dúvidas com os pais, assistir desenho animado, brincar de faz-de-conta.
Foi nesse último elemento que eu me baseei, no faz-de-conta. Quando eu era pequena (não que eu não o seja hoje), gostava muito de inventar histórias. Criava personagens e distribuia entre as minhas amigas. Parando pra pensar nisso, é que percebo o quanto essa graduação em teatro foi somente uma retomada às minhas origens. Pensei em duas opções:
A primeira seria me fantasiar, sair por aí fazendo coisas do dia-a-dia, como ir ao cinema, almoçar, passear pelo shopping, vestida de boneca. Mas daí me veio uma grande questão que nós conversamos bastante em sala, a questão da responsividade. Percebi que eu não conseguiria, sendo tímida como eu sou, passar o dia inteiro encarando pessoas que me olhassem com desdém os estranhamento, sem ter algum tipo de resposta, sem ficar desestimulada e com vontade de ir para casa e encerrar a performance. Passei então para a minha segunda proposta.
Ainda nessa linha do faz-de-conta, eu pensei em algo com o qual eu me divertia bastante, que era atravessar a rua fingindo que entre as linhas da faixa de pedestre houvesse lava derretida, ou jacarés famintos e dragões descontrolados soltadores de fogo, como se aqueles espaços pretos fossem uma área proibida. Pensei que seria ótimo, que era uma performance pontual, rápida, que passaria a minha questão sem que eu tivesse de me expor por tanto tempo. Mas não importa o quanto eu remoesse essa ideia, ela nunca me parecia boa o suficiente. Eu achava que faltava algo pra que aquilo, aquele momento, deixasse de ser só "uma pessoa atravessando a rua e passasse a ser uma pessoa lutando em favor da infância. Pensava no que eu poderia fazer para que as pessoas entendessem que aquilo se tratava de uma luta pela infância, em como tranformar aqueles segundos da travessia em algo significativo, mas nada parecia bom o suficiente. E então eu percebi que nada pareceria bom o suficiente.
Todas as ideias que eu tinha, eu propositadamente recusava. Claro que demorei algum tempo pra perceber isso, porque eu sempre fui do tipo que gosta de fazer o que se propõe. Mas aquilo não ME faria feliz. A minha felicidade não está em performar, não está em sair na rua e chamar atenção. Conversei com a minha mãe sobre esse conflito que eu estava tendo. E ela me disse uma coisa que eu já sabia mas que tentava negar. Eu não gosto de plateia. Desde sempre eu escolhi ficar nos bastidores. Minha satisfação vem muito mais de fazer um desenho e gostar (ou ter outras pessoas que gostem) do resultado, do que de ter todos sabendo que fui eu quem fez aquele desenho. Eu ficaria feliz se eu pudesse simplesmente pedir que alguém fizesse a performance por mim, mas senti como se isso fosse trapaça. Achei mais correto simplesmente admitir que eu não fui feita pra isso.
Relembrando, pensei na minha performance dos abraços grátis. Como aquilo foi divertido por alguns instantes, mas depois se tornou só mais uma tarefa, algo pelo qual eu tinha que passar. Gostei de perceber que eu era capaz de ter uma ideia interessante para uma performance inédita(apesar da Tânia ter dito que ela tinha acabado de ver alguém fazer uma performance igual no ABRACE, aquela ideia era inédita para mim). Mas eu fiquei muito mais tranquila depois que pude tirar todo aquele plástico-bolha que me envolvia.
E agora um desabafo, em relação à performance do riso. Por mais que eu me dissesse que eu não iria só porque já tinha feito aquilo no período anterior e estaria apta a falar disso agora, também tinha outro pensamento passando pela minha cabeça. Eu realmente não queria fazer aquilo de novo. Foi engraçado? Foi. Passou uma mensagem importante? Passou. Foi divertido? Foi, por um ou dois minutos.
Por esses motivos, é que não me pareceu certo fazer uma performance. No início fiquei intimidada pela ideia de ter de superar ou escrever, pelo menos, tão bem quanto a aluna que a Tânia citava, que não quis performar. Mas resolvi botar essas inseguranças de lado e simplesmente assumir essa escolha. Não sou performer, e nisso está a minha felicidade.
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