domingo, 22 de maio de 2011
Praça XV
Às 17h da quarta-feira combinada eu já havia chegado à Praça XV para o experimento. Observava as pessoas que já andavam por ali e uma coisa foi unânime: todas tinham pressa. Tentei imaginar o que as faziam correr: chegar logo em casa, não se atrasar para a faculdade, não perder o horário de funcionamento de algum estabelecimento. E foi muito difícil distinguir qual era, de fato, o motivo do apressamento. Percebi então que não é necessário motivo; é sempre melhor andar com pressa, assim evitamos qualquer imprevisto que cause uma fuga do que havíamos planejado. Ao começar a preparação para a meditação, em que todos nós nos prendíamos àquilo que sempre carregamos conosco, era interessante perceber como o nosso ato isolado [já que ele ainda não interferia no caminho dos outros] começava a distrair a velocidade das pessoas. Por menor que fosse a reação das pessoas em relação a gente, era possível perceber que o ritmo delas diminuía para nos olharem mais e que o foco mudava quando elas nos viam. Outras, como era de se esperar, nem nos perceberam. Quando começamos nossa caminhada meditativa, em ritmo bem menos acelerado que o dos outros, as reações foram maiores: comentários e indagações sobre o que se tratava, reclamações por estarmos atravancando o caminho. Haviam pessoas que se irritavam e ignoravam o que se passava, procuravam de qualquer forma fingir que nada acontecia e seguiam o caminho de sempre. Outras, por mais apressadas que estivessem, esqueciam a afobação e nos acompanhavam, seja com o olhar, seja caminhando conosco [como foi o caso de uma mulher que estava ao telefone em direção às barcas e que ao nos ver, parou de súbito, observou e nos seguiu até à Rua 1º de Março, sem nos perguntar qualquer coisa]. Como é de se esperar nesse tipo de experimento em que se sugere uma alteração do fluxo habitual da cidade, independente do local em que ele é realizado, muitas das reações das pessoas se repetem. A questão que eu levanto é se de parte de quem experimenta a ideia também se repete. Nesse nosso caminhar meditativo, mais lento, mais tranquilo, além da quebra do fluxo transitório, tinha também o fator "carregar". Cada realizador carregava consigo algo que achava que carregava sempre [no meu caso, meu sono, representado por um travesseiro e pantufas]. Não sei se pras pessoas ficou claro que, além da ideia de que desacelerar às vezes é bom, deveríamos prestar atenção nas coisas que sempre carregamos conosco, nas coisas que estão sempre em nós, se elas são de fato necessárias pro nosso dia-a-dia, a maneira como elas interferem no nosso dia-a-dia. Não sei também se isso deveria ser uma preocupação nossa, mas não sei se foi pelo fato de também estarmos meditando durante essa caminhada que eu percebi que a maneira como eu me coloco no espaço tem muito mais a ver com o que eu carrego que de fato com o percurso que eu vá fazer. A nossa presença no espaço, hoje, é muito mais influenciada pelos nossos carregamentos, mas a nossa resposta a isso é sempre a mesma: a pressa. O que fica pra mim desse experimento é justamente isso: como sermos capazes de perceber o que de fato nos move e como nós reagimos a esse impulso.
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