Já performei algumas vezes antes, mas foi a primeira vez que o faço em um lugar público e coletivamente, o que é muito diferente. Caminhar lentamente, prestar atenção na sua respiração, vivenciar o momento presente é difícil, mas em grupo e ainda sem se comunicar verbalmente é mais difícil ainda. Tive muita dificuldade de olhar as pessoas que passavam por nós, era como se eu as tivesse interpelando, e isso me dava a sensação de me destacar do grupo. Optei então a olhar fixamente em uma direção e andar, e me guiar pelo som que fazíamos. Tentei estar sorrindo o tempo todo, como indicava Thich Nhat Hanh no seu guia para a paz interior, mas a boca ia desmanchando lentamente e quando percebia já estava sem o sorriso nos lábios, então sorria novamente. Sorrir durante a performance me foi importante, fez com que eu estivesse presente, não encarnasse um personagem, me levava ao aqui e agora vivido ali.
Cheguei antes da hora marcada e encontrei com uma participante que também havia chegado antes, Lucimar. Vimos a praça com movimento ainda tranquilo, diferente do que o vivido durante a performance. Entramos no Paço Imperial para esperar a hora marcada e começarmos a nos vestir com “as coisas que carregamos em nossas vidas”. Foi interessante a relação das pessoas com a gente naquele lugar, antes de nos vestirmos para performar, as pessoas mal nos notavam, depois que colocamos parte de nosso “carregamento” todos nos olhavam, e o segurança do local passou a ficar mais próximo de nós. Quando saímos de lá e fomos para frente da instituição esperar os demais colegas, os seguranças também foram e ficaram na porta nos vigiando. É interessante essa reação dentro de uma instituição artística, que mal uma pessoa com duas caixas na cabeça e outra com um travesseiro poderiam fazer às pessoas que tomavam seu chá? Tenho associado cada vez mais a performance em locais públicos com a intervenção policial... Durante a performance tivemos um encontro com a Guarda Municipal, que nos rondou, viu que éramos inofensivos e nos deixaram passar. Qual o perigo que o artista pode causar para a sociedade? Acho que a curiosidade/desconfiança. Um perigo para aqueles que se beneficiam de uma sociedade passiva, como a que vemos hoje, na qual tudo é normal, tudo é facilmente aceito. Nós despertávamos a curiosidade nas pessoas, e elas demonstravam o que pensavam da sociedade através de nós. Assim, muitos achavam que estávamos protestando, reafirmando à população a possibilidade de protestar contra algo que não aprovem. Algumas até diziam o motivo de nossos protestos, uma mulher falou: eles estão protestando pelo menino que morreu. Não sei que menino é esse diante de tantas mortes que temos diariamente expostas nos jornais, mas será que não é um indicio de que esta na hora de fazermos alguma coisa em relação a isso? Quando um grupo como nós ocupa a rua, e não só passa por ela, mostra que é possível a ocupação desta; e também fazemos com que aqueles que estão passando olhem para ela de outra forma, vivencie-a. Eu transito bastante por aquela praça, antes da performance eu passava apressadamente por ela para chegar ao meu destino, durante a performance a redescobri, e agora busco vivencia-la nos meus cinco minutos de travessia quase diários. Tenho certeza que nossa performance apresentou a muitas pessoas pelo menos um cantinho desconhecido daquele lugar, e isso já quer dizer muita coisa...
terça-feira, 24 de maio de 2011
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