Performance... pra quê? Por que? Confesso que essas eram perguntas frequente para mim antes do início deste período. A performance ainda é vista por muitos com preconceito. Neste sentido a performance de Paulo Bruscky “O que é a arte, para que serve?” Se encaixa perfeitamente no contexto dessas pessoas que não entendem o intuito dessas realizações.
Regina Melim introduz seu livro “Performance nas artes visuais” dizendo que o termo “performance” é tão genérico quanto as situações nas quais é utilizado. Uma performance pode ser encontrada em diversas áreas da arte, isto é um dos motivos pelo qual é tão difícil classificar ou julgar esse ato.
Ao pesquisar diversos artistas me deparei com Marcia X. Foi uma identificação imediata com o trabalho da artista. A sua agudez que acompanhou toda sua trajetória, acrescidas de uma forte ironia foram os pontos de maior identificação. Pancake possui essas características e por isso me interessou profundamente.
Desde os anos 50 os espaços e objetos da vida cotidiana são motivo de investigação e fascinação de diversos artistas. Allan Kaprow, em seu tributo a Jackson Pollock diz:
“-Objetos de todos os tipos são materiais para nova arte: tinta, cadeira, comida, luzes elétricas e neon, fumaça, água, meias velhas, um cachorro, filmes, mil outras coisas que serão descoberta pela geração atual de artista. Esses corajosos criadores não só vão nos mostrar, como que pela primeira vez, o mundo que sempre tivermos em torno de nós mas ignoramos, como também vão descortinar acontecimentos e eventos inteiramente inauditos...”
Em Pancake, Márcia X faz com que a ação executada (derramamento do Leite Condensado) com excesso torne ações corriqueiras em imagens absurdas.
O leite condensando pode criar uma série de códigos antagônicos:
Leite x sêmen
Maternidade x Virilidade
Afeto x Erotismo
O que mais me impressiona nesse trabalho e consequentemente nas performances em geral é a multiplicidade de interpretações geradas por uma ação.
Agir no limite entre a consciência e o transe...A perseguição pelo supérfluo, a maquiagem que deforma, a busca do prazer que leva o oposto... todas essas indagações me passaram pela cabeça ao refazer Pancake. Depois do re-enctment realizado li uma frase de Arnaldo Antunes que me remete muito a todo esse processo: “Sempre é pouco, quando não é demais”. Talvez essa seja uma conclusão ao ver Pancake.
Bibliografia:
Melim, Regina. Performance nas artes visuais, Rio de Janeiro: Zahar, 2008.
Irônia, conceitos antagônicos, multiplicidade de mensagens. Eu já tinha adorado sua performance, o conceito e a maneira como você conduziu a experiência. Adorei seu translato também, me fez entender melhor alguns aspectos da performance que vc havia comentado em sala e, tb, me fez conhecer um pouquinho melhor vc. Arrasou. Bj, bj, bj.
ResponderExcluirLarissa, "últimas consideraçoes" (se é que o trajeto, a reflexao do artista acabam um dia...?...): performance interessantissima que explora estas contradiçoes acima citadas por você e pela Dani e diáloga com a questao da estátua urbana como objeto morto, sem vida, escolhida nao pelos habitantes da praça, mas por um poder público anônimo. Chega entao uma estátua viva e deliciosa. Um contra-ponto, ainda mais no lugar que vc escolheu para a realizaçao da performance. Gostaria de questionar mais a questao do registro. Vídeo, foto? Ainda virá? Beijos.
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