sábado, 11 de dezembro de 2010

three transitions, de Peter Campus - Re enactment, de Roberta Brisson

Peter Campus nasceu em NY em 1937 e trabalhou no campo da vídeo arte, da fotografia e da arte interativa, recebeu muitos prêmios, teve seus trabalhos, que vão da fotografia ao vídeo digital, expostos nos maiores museus dos Estados Unidos e da Europa. Sua formação em psicologia experimental parece ter contribuído e muito para as suas obras em vídeo, que exploram questões como identidade e realidade. Por isso me parece plausível considerar sua performance a partir de suas experiências pessoais. Assim como faz todo sentido pensar esse reenactmente sob o ponto de vista de uma experiência pessoal.
Vou me deter aqui ao vídeo Three transitions, de 1973 em que Campus se confronta com a própria imagem e suas possibilidades. Nessas 3 transições o artista projeta sua imagem, a atravessa e sobrepõe uma imagem de si mesmo sobre seu rosto. Ele brinca de manipular a própria imagem. São muitas as possibilidades de interpretação dessa obra.
Depois de pesquisar e assistir algumas performances me deparei com esse vídeo. Me chamou a atenção de imediato a técnica, o uso da câmera e do projetor. Tive curiosidade de saber o modo como foi feito. Num segundo momento me vi atraída pela possibilidade de estripar a mim mesma, de me atravessar e descobrir o que existe do outro lado. HT Lehman, no texto Teatro e performance, fala da autotransformação que sofre o perforrmer; se no teatro os artistas apresentam uma realidade que eles transformam artisticamente por meio de materiais ou gestos, na arte performática a ação do artista está menos voltada ao propósito de transformar uma realidade que se encontra fora dele e transmiti-la com base em uma elaboração estética, aspirando antes uma autotransformação”. O corpo está ali, necessariamente presente. A performance é agora, é presente, ela acontece de fato. Me parece extremamente relevante a reflexão proposta por Lehman na comparação do teatro com a performance. A tentativa de apreender essa arte tão contemporânea, que não precisa se desfazer de sua abrangência e que recusa rótulos.
Chefe de um homem com a morte em sua mente (1978) é um vídeo que mostra o rosto de um homem que olha diretamente para a câmera durante 12 minutos. O homem ainda é uma cabeça e um pedaço da cabeça da mulher (1979) consistiu em flagrante foto-projeção de cabeças. Neste momento Campus, profundamente afetado pela própria obra, tem uma crise pessoal e para de produzir trabalhos em vídeo até, dedicando-se à fotografia. E, desta vez, voltando-se para uma natureza exterior a ele. Essa retirada de cena é, a meu ver, um flagrante de como seu corpo foi afetado pelo seu trabalho. Além da auto-transformação, Campus discute; identidade, realidade e virtualidade do corpo, presença, ausência e narcisismo.
Para mim o que era importante não era a alternar entre vídeo e fotografia, mas do interior para o exterior. Os exames interior tornou-se insuportável .... Fiquei muito interessado na natureza. Um lote de que era uma fuga o que estava acontecendo na cidade. Era um lugar onde todas as coisas que estavam me incomodando desapareceria. Então, muito rapidamente, cerca de 1982, tornou-se o tema do meu trabalho.
A experiência de estar presente, de viver aquele momento me fez descobrir que era necessário expurgas alguns sentimentos, que eu mesma sou capaz de me dissecar e re arrumar o que vive aqui dentro. Mais do que enriquecedora, o re enactment dessa obra foi uma experiência transformadora.

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