sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Marina Abramovic´s Art Must be Beautiful

marina abramovic´s art must be beautiful re-enactment from Candida Sastre on Vimeo.


O Re-enactment
Candida Sastre

Fazer um re-enactment. Reencenar uma performance. Essa foi a missão que recebi em Análise de Temas e Autores Teatrais. Num primeiro momento tentei entender a relação entre a arte conceitual (a performance) e os temas teatrais.
Lendo a bibliografia do curso, especialmente os textos de Hans-Thies Lehmann e de Fábio Cypriano, percebi que esta relação existe na efemeridade em comum ao teatro e a arte performática. A performance assim como o teatro é uma experiência ao vivo. Na minha opinião o registro de uma performance assim como o registro de uma peça de teatro não é a performance ou a peça. Os dispositivos de registro seriam um desdobramento daquela obra.

Um re-enactment é uma repetição encenada por outro artista é a “teatralização da performance”. Me chamou atenção a declaração de Tom Marioni, amigo do performer Cris Burden, em carta ao New York Times para explicar a recusa de Burden em permitir que a Performer Marina Abramovic recriasse uma performance sua.

“Se o trabalho de Burden (Cris) fosse recriado por outro artista, ele se tornaria uma encenação teatral, com um artista assumindo o papel do outro”.

Pois foi exatamente como atriz que encarei essa missão. A persona da atriz recriando um personagem permeou meu trabalho desde o início. Com o texto de Regina Merlin descobri que a performance, em muitos casos, envolve questões biográficas do artista. E pensei que a melhor maneira de escolher meu re-enactment seria refletindo sobre o que estava me incomodando naquele outubro de 2010. Encontrei no artista plástico Antônio Manuel os primeiros indícios dos conceitos que queria discutir. Em 1970, Antônio Manuel se apresentou na noite de abertura do Salão Nacional de Arte Moderna como a obra de arte recusada. O ator, assim como o performer, tem como matéria prima do seu trabalho o corpo. Meu corpo é minha obra, é meu material de trabalho.

Pensando na questão da recusa e das exigências de mercado, cheguei ao trabalho de Marina Abramovic, Art Must be Beautiful-Artist Must be Beautiful. No vídeo de 1975 Marina recria uma ação cotidiana (pentear-se) e a transforma numa ação artística. Não é um ato de embelezamento, mas um gesto de questionamento. Marina se penteia durante 13 minutos e 58 segundos, e vai num crescendo até sentir dor.
Pesquisei o processo criativo de Marina e tentei me preparar da mesma forma para gravar o vídeo. Achei importante tentar, assim como ela, programar a minha mente para fazer uma performance. E é aqui que a atriz entrou mais uma vez em cena, pois normalmente não tenho o hábito de meditar fora de um contexto religioso. O que faço antes de entrar em cena é me concentrar. A encenação também se caracterizou pela quebra dos três dogmas definidos pela própria Marina Abramovic no início de sua carreira: “sem ensaio, sem repetição e sem final previsto”. Ensaiei duas vezes na minha casa com a web cam do meu computador e no dia da filmagem fiz a performance duas vezes. O final, obviamente, já estava previamente definido.

O que realmente não estava definido foi a repetição da performance. “Mais uma pra garantir”, me disse meu amigo que filmava a ação. Ironicamente o elemento surpresa veio de uma regra tradicional da forma de registro escolhida. Ao todo fiz quatro vezes o re-enactment, cinco se contar a edição do vídeo, que discuto mais adiante.
Durante a performance não me preocupei com o registro, houve uma pré produção aonde resolvi todas as questões de filmagem. No set me deixei envolver pelo sentimento, puxei o cabelo com muita força, não de uma forma proposital, mas como consequência da repetição frenética que me propus. Senti muito calor e no final muita dor de cabeça. Fazer a segunda vez foi um esforço absurdo. Ao ver as imagens, percebi que, infelizmente, não fui capaz de manter a placidez original de Marina Abramovic. Havia um festival de caretas e a dor estava expressa mais do que deveria. E foi aí que entrou a edição.

O conceito, o registro e a edição

Escolhi uma performance em vídeo de propósito. Pesquisando performances, percebi que os registros que mais me agradavam eram em vídeo. E que as imagens documentais (sem um direcionamento) não eram tão interessantes. E nesse caso, seria avaliado o registro, pois meu trabalho não seria acompanhado. Por isso, levei em conta que a missão não era só o re-enactment, mas a forma de registrá-lo, já que esse registro seria publicado. Achei o trabalho de edição tão importante quanto a performance. Se estou recriando uma performance feita em vídeo, o vídeo é também um re-enactment (nesse caso, o quinto). Ao recriar o trabalho de Marina Abramovic, usei três das cinco condições estabelecidas por ela no re-enactment As Seven Easy Pieces.

Realize uma nova interpretação da peça

Exiba o material original

Exiba a nova interpretação da peça

As outras duas: peça permissão ao artista e pague os direitos autorais, foram ignoradas por motivos óbvios.
Desenvolvi o vídeo em parceria com a artista de multimeios e pesquisadora Moana Mayall. O que começou como um favor para um trabalho universitário, acabou se transformando numa parceria e gerando um vídeo profissional.
Cheguei à casa de Moana com a fita de Mini DV, um Cd com imagens de capas de revistas, um DVD com a cópia do vídeo de Marina e a idéia de juntar todas essas imagens de alguma forma. Desde o início, para mim, a melhor forma de exibir o material original, seria junto com o meu. Não queria passar um vídeo e depois o outro. Também queria acrescentar outras imagens, ir além, trabalhar com a idéia das capas de revistas e com o conceito platônico do belo.
Quando estava fazendo a pesquisa para o re-enactment, dei de cara com a imagem de uma cantora de calcinha e sutiã, na capa da revista Rolling Stone. Achei estranho. Era uma cantora que, teoricamente, só precisava ter voz. Por que posar de calcinha e sutiã?

Sou a primeira a defender a atitude e a contestação de um artista. Mas me chamou atenção o fato da Rolling Stone ser uma revista especializada em música. Aquela imagem não estava na capa do disco ou na capa de uma revista de moda. Ilustrava uma matéria sobre música. Quando o artista tem que estar bonito, até na hora de posar para a capa da revista especializada em sua arte, está na hora de pensar sobre isso. Penso que as questões levantadas por Marina são mais atuais hoje, do que em 1975.
O artista deve ser bonito? Até que ponto existe um exagero e uma massificação do conceito da beleza, uma repetição da fórmula cabelo louro e nariz pequeno? Para isso, queria usar mais imagens, atualizar essa contestação.

Em entrevista a Lynne Cook durante a 28ª Bienal de arte de São Paulo, Marina Abramovic declara:
“Não é justo que a nova tecnologia tenha uma aparência tão melhor, mais bonita e mais atual: as obras antigas de alguma forma ainda se perdem, mesmo que as idéias sejam dez vezes melhores. A minha grande pergunta é: será que o artista tem o direito de atualizar o material do seu passado, colocando – o em um contexto no qual talvez venha a ter uma nova vida?”

Como não sou a artista original, me senti autorizada pelas palavras de Marina a seguir em frente na minha pesquisa. Pensando no re-enactment, surgiu a idéia de trabalhar a repetição. Eu estou repetindo a Marina que se repete. O conceito de beleza hoje em dia se repete, se massifica, se fabrica.

O nome da matéria é Análise de Autores e Temas Teatrais. A repetição é pode ser considerada um tema teatral. A idéia foi trabalhar o conceito usando a edição para brincar com a repetição e inserindo novas imagens como uma bricolage. Ao mudar a forma do vídeo de Marina, procurei uma interrelação. Trabalhei o tempo usando outros conteúdos em um mash-up de imagens.

No vídeo original, o foco é a cabeça da artista. Aqui o foco é múltiplo. Se a câmera, assim como o telescópio em A Casa Vista para o Mar (outra performance de Marina) direciona o olhar, aqui tive a intenção de usar a edição como, usando as palavras de Luiz Cláudio da Costa, uma “nova maneira de criar acontecimentos em arte”. Modelar e mudar a forma sem mexer no conteúdo, que nesse caso é o conceito.

Bibliografia:
O Teatro Pós Dramático – Hans- Thies Lehmann
Dispositivos de Registro na Arte Contemporânea – Luiz Cláudio da Costa
A Casa com Vista para o Mar de Marina Abramovic - entrevista a Ana Bernstein
Performance nas Artes Visuais – Regina Melim
Performance e Reencenação: uma análise de Seven Easy Pices de Marina Abramovic – Fábio Cypriano
Entrevista de Mariana Abramovic a Lynne Cook, publicada no site da 28ª Bienal de Arte de São Paulo.

Re-enactment: Candida Sastre
Concepção do vídeo: Candida Sastre e Moana Mayall
Imagens: Valério Fonseca
Agradecimentos: Tarik Vasques, Rany Carneiro e Gaia Catta.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

INFLUENCERS FULL VERSION from R+I creative on Vimeo.


INFLUENCERS: How Trends & Creativity Become Contagious é um video de 14 minutos sobre como a criatividade e as tendências afetam o mundo do entretenimento, da moda e da música.

Rancière e espectador emancipado

"É isso que emancipação significa: o embaçamento da oposição entre aqueles que olham e aqueles que agem, entre os que são indivíduos e os que são membros de um corpo coletivo."

Jacques Rancière, O espectador emancipado

Texto completo disponível em
http://www.questaodecritica.com.br/2008/05/o-espectador-emancipado/
Traduçao de Daniele Avila

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Diário de bordo 4




O vídeo ficou pronto. Esses são os stills.
Mas o som ficou fora de sincronia, estamos agora resolvendo isso. Optei por não colocar as imagens dos seios no vídeo. Não acho que esse seja o foco do vídeo de Marina, os seios dela aparecem num momento é apenas um detalhe. Também não sei como vai ser meu futuro. Se artístico ou acadêmico. Por isso tive receio de me expor na Internet.Também achei desnecessário explicar isso no relato do re-enactment.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Re-enactment "Pancake" (de Márcia X por Larissa Landim)

re- enactment Pancake




Como tudo começou...

Eu demorei muito a escolher uma performance. Meu primeiro projeto era fazer uma performance da Marina Abramovic, onde ela dançava até desmaiar. Confesso que testar os limites do meu corpo me atrai. Devido a meu problema no joelho ( eu iria operar) não foi possível.

Foi aí que me deparei com Marcia X. O desejo que a artista tem em mostrar o universo feminino e trabalhar as obsessões que giram em torno da figura da mulher me instigou.

Quando vi a performance Pancake tive a certeza de que era aquilo que eu queria fazer. O problema era como produzir isto?

Foi de fundamental importância a ajuda do meu “anjo” Márcio Vito na produção. Não só na preparação como na realização. Eu precisaria de 12 latas de 2,6 kg de leite condensando, confetes, uma bacia e uma peneira. Depois de tudo comprado era preciso achar um lugar para a realização.

Marcia X já tinha realizado esta performance em vários ambientes, tanto fechado como aberto. Eu optei por fazer no aterro do flamengo em um domingo em frente ao Porcão. A minha decisão pelo lugar aberto é que eu queria ter o contato com as pessoas, e o fato de fazer em frente a um lugar onde as pessoas vão se empanturrar de comida criava um paralelo com o excesso de leite condensado que eu estaria derramando sobre mim.

Questões passavam na minha cabeça. O leite condensando nos remete a várias coisas. Nos traz a lembrança da infância, nos doces como o brigadeiro mas ao mesmo tempo pode nos remeter ao fetiche na vida adulta. A figura do leite materno x o sêmen que nos gera.

A figura criada e recriada várias vezes pelo leite condensado derramado também me remete a idéia da maquiagem que nos mulheres fazemos e refazemos em vários momentos de nossa vida. O ponto que me questiona neste sentido é: Até que ponto esta busca pela beleza não nos desforma? Afinal tudo em excesso não cria um certo desequilíbrio?

Resolvi focar e mergulhar literalmente neste universo de cabeça! Pancake é uma experiência que pretendo refazer outras vezes.





http://www.youtube.com/watch?v=8L8CBjpCYFY





domingo, 7 de novembro de 2010

H.O. de Ivan Cardoso | Parte 1

H. O. - Ivan Cardoso (1979) - PARTE 2

Diário de Bordo 3 - A edição.

Marina Abramovic´s Artist Must Be Beautiful - Re-enactment.
In progress.

Frame do Final Cut. Nossa como é dificil essa parte. Concluí que a performance não foi o re-enactment. Meu re-enactment é o video. Pois Marina fez a performance diretamente em video. Vou te contar esse final cut é complicado... Vamos lá terminar isso.